De coração para coração

Abraço solidário de Tite em Chico Lang (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

Meus amigos e inimigos (como escrevia Matinas Suzuki). Não sou saudosista. Nem gosto de tirar fotos, congelar momentos, para ficar rindo ou chorando depois de um tempo. Para mim a vida flui, doa a quem doer. Nos bastidores da gravação com o técnico Tite (programa do Mesa Redonda que vai ao ar no primeiro domingo de janeiro), levei um papo com o “cara” da seleção, como nos velhos e bons tempos, com perguntas duras, respostas ariscas, conversa regada a palavrões e boas risadas

Chegamos à conclusão estar o futebol brasileiro em compasso acelerado de destruição. De bola raiz nos transformamos em bola nutella. Concordamos, vejam bem, que os espetáculos de 1960 a 1990 saltavam aos olhos. Quase obras de arte. A gente ia com prazer ver uma partida de Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos, e até de Nacional, Juventus, Ponte Preta, Guarani. Hoje isso não é mais possível.

1.ª Martelada: velocidade de jogo aumentou.

Jogos ficaram mais corridos, intensos, pegados. Difícil ter um atleta que consiga reunir agilidade, rapidez, drible e raciocínio progressivo ao mesmo tempo. Culpamos até a biologia dos caras. Um francês, por exemplo Mbappé, ou o croata Modric e o belga Hazard, conseguem ser técnicos e correrem ao mesmo tempo. Ou seja, dominam a bola e deslizam em campo em velocidade RACIOCINANDO. O boleiro nacional nem sempre chega nesse nível. Fim. Exceção a Neymar. Pode ser cai-cai. Mas joga demais.

Contei ao Tite que um dia, quando repórter, do extinto Notícias Populares, estávamos vendo um treino do Palmeiras no velho e bom Palestra Itália. Eu, meu querido Fábio Sormani (na época do Placar) e o grande Rubens Minelli. De repente, um hábil ponta de nome Barbosa, disparou pela esquerda em uma velocidade espantosa. Minelli se assustou (eu e o Sormani também). O treinador gritava: “Cruza, Barbosa; cruza, cruza…). Mas o jogador não conseguia. Só driblava, driblava. Deus me perdoe, mas parecia o Garrincha! Aí, então, o campo acabou e o rapaz caiu no antigo túnel do estádio. “Bem, ele é veloz demais. Não posso querer que ele pense ao mesmo tempo também”, sentenciou o treinador. Quer dizer, o problema não é de hoje.

2.ª Martelada: erro de passe.

Para Tite o erro de passe de dois metros, por exemplo, está sim relacionado com a qualidade. Porém, ele não chegou à conclusão nenhuma. “É um mistério”, concluiu. Para quem não sabe, Tite era volante. Batia para caramba, às vezes. Mas raramente errava um passe. Tocava rápido e só não foi campeão brasileiro em 1986 contra o São Paulo porquê o Aragão, juiz da partida, não deixou. Paciência. Na minha opinião, os caras são ruins mesmo. Robóticos demais. Querem se livrar da bola. Até gente da seleção do Tite mostrou esse “pecado mortal” na última Copa. No fundo, Tite sabe disso, com certeza.

3ª Martelada: queda de Jadson no Corinthians.

Para encerrar as conversas paralelas durante a gravação, perguntei: “Tite, não entendo uma coisa: com você o Jadson chegou a ser campeão brasileiro só cobrando pênaltis e fazendo golaços de falta? Agora, em 2018, o camisa 10 se arrastou em campo?”. Resposta curta e grossa: “Ele é bom para cacete”. Significado: colocaram o ótimo Jadson no lugar errado, na hora errada e “mataram” o rapaz. Com Fábio Carille será diferente. Espero.

Entendi, amigo Tite. Boa sorte na seleção, Feliz Natal e Próspero 2019.

E tenho dito!