Hamilton e a polêmica do melhor de todos os tempos

LAT Images/Divulgação Mercedes

Quis o destino que um menino de origem humilde e grande fã de Ayrton Senna se tornasse não apenas o primeiro negro a correr na cada vez mais elitista F1 como também se tornasse um dos maiores de todos os tempos.

Ainda lembro do GP da Espanha de 2006, em Barcelona, quando fui ao paddock da GP2 (hoje Fórmula 2) procurar o piloto que era apontado como um dos favoritos ao título daquele ano e que já tinha contrato com a McLaren: Lewis Hamilton.

E naquela época uma entrevista exclusiva com o inglês não era uma missão quase impossível. Tanto que cheguei na mesa onde ele estava – sozinho, sem nenhum assessor ou familiar – e perguntei se poderia fazer uma entrevista com ele, me apresentando como jornalista brasileiro.

“Você é do Brasil? Que legal, sou um grande fã de Ayrton Senna”, me disse, já puxando a cadeira para iniciarmos a entrevista. E eu nem tinha preparado direito as perguntas, mas recebendo esta admiração de um ídolo brasileiro logo de cara e vendo a disposição dele em falar, emendamos uma boa conversa de uns 15 minutos falando sobre sua carreira. Naquela época, ainda era difícil encontrar muita coisa a respeito dele, mesmo já sendo uma potencial estrela.

Hamilton foi campeão daquele ano da GP2 ao vencer um duelo com Nelsinho Piquet, virou titular da McLaren e encarou de igual para igual seu companheiro de equipe, o já bicampeão mundial Fernando Alonso. Em um ano, tudo mudou: Hamilton já era cercado de diversos assessores e com aquela agenda insana de pilotos de F1. Mas o interessante é ver que, embora tenha começado sua carreira numa equipe de ponta, o inglês conseguiu se impor mesmo contra um bicampeão do mundo.

E todos sabem bem como Alonso consegue destruir seus companheiros de equipe. O inglês por pouco não foi campeão mundial logo em seu primeiro ano, mas o título veio na decisão mais dramática de todos os tempos no ano seguinte, com um ponto de vantagem sobre Felipe Massa em Interlagos em 2008.

Os anos seguintes foram difíceis para Hamilton – o domínio da Red Bull fez com que Sebastian Vettel acumulasse quatro títulos seguidos entre 2010 e 2013. Mas aí veio a mudança de regulamento e a sua ida a Mercedes foi decisiva. Sorte? Claro que não, mérito total do inglês, que foi convencido por Niki Lauda de que o projeto seria vencedor. E ele sabia que para o projeto dar certo, precisava de um campeão como Hamilton. Não por acaso, Lauda foi o grande homenageado na conquista do hexa, já que o austríaco nos deixou em 2019.

Nesta era de domínio da Mercedes, Hamilton ganhou mais cinco títulos em seis anos – e só perdeu para seu companheiro, Nico Rosberg, após um ano de duelo tão intenso que fez o alemão preferir abandonar as pistas do que correr novamente contra Hamilton. Não é pouca coisa.

Muita gente costuma diminuir os feitos de Senna e outros gênios do esporte porque outros pilotos (como Michael Schumacher) tem números melhores. Será mesmo que a definição de melhor de todos os tempos é só contar a quantidade de títulos?

O que dirão agora que Hamilton caminha para bater todos os recordes? Que agora Hamilton será o melhor e Schumacher, Senna, Lauda, Fangio, entre outros, “pioraram”? Claro que não. Quem talvez não compreenda a paixão do esporte acaba se deixando levar pela análise rasa das estatísticas.

Números estão aí para serem superados. Já histórias que inspiram milhões de pessoas no mundo inteiro são eternas. Senna fez isso com o pequeno Hamilton lá nos anos 1990, e agora é a vez do inglês inspirar as próximas gerações. É sobre este legado que deveríamos falar quando opinamos sobre quem é o melhor de todos os tempos.

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