A complexidade da arbitragem de futebol no Brasil

Foto: Leo Sguaçabia/Ag.Paulistão

Não há nada mais complexo e difícil de ser entendido na face da terra do que nossa arbitragem de futebol. As atividades dos engenheiros da NASA são, de longe, mais simples do que nossa arbitragem! E qual seria a razão desta complexidade? Seria por conta da própria natureza da atividade ou por deficiência dos profissionais do futebol e de sua arbitragem? Cremos ser esta última alternativa a principal razão para tantos desencontros.

Vamos lá: primeiramente, porque os responsáveis pelas entidades organizadoras, CBF e federações, assim como os clubes, são extremamente amadores e não agem como deveriam. De fato, pois os dirigentes, sobremodo os da própria arbitragem, atuam equivocadamente, em especial porque não estabelecem princípios técnicos e disciplinares que dêm norte à conduta dos agentes esportivos, principalmente aos árbitros.

Os infratores são mimados, como se fossem incapazes de assumir responsabilidade, principalmente as “estrelas” do futebol, às quais tudo ou é permitido ou é perdoado. Exemplo clássico desta verdade, foi a expulsão de Yuri Alberto do Corinthians, no clássico com o Palmeiras, ontem, 06/02/25, em razão de duas atitudes inconcebíveis para um profissional de primeira linha. Não obstante, o fato ganhou contornos de naturalidade, com a recepção carinhosa e calorosa dada ao jogador expulso, ao sair de campo, pelo treinador do Corinthians, quando sua ação deveria ser, não grosseira, mas de desaprovação profissional.

Ações igualmente reprováveis ocorreram com outros jogadores do Palmeiras e da Portuguesa em outros jogos, que fizeram gestos obscenos, sendo que a Portuguesa ainda questionou a expulsão do seu atleta. O inconformismo da Portuguesa, porém, não foi por desejar igualdade de critérios, já que o jogador do Palmeiras não foi expulso, mas por não querer a expulsão do seu jogador, com o que pretendia que o erro da outra arbitragem se repetisse.

Haja amadorismo e, pois, despreocupação com o bem do futebol. No terreno da arbitragem, em que os exemplos de inconsistência de conduta e de ideias ocorrem aos borbotões, especialmente nos jogos da CBF, a coisa ainda é bem mais feia. Mas vamos ficar no clássico de ontem. Nosso disparado melhor árbitro, Raphael Claus, foi por demais leniente com o Abel Ferreira, que, ao lado de Hulk, do Atlético-MG, são os maiores embaixadores das reclamações contra a arbitragem no Brasil.

Ontem, o Abel, além do perdão do Claus, ainda recebeu seguidos “carinhos” do também competente assistente Danilo Simon Manis, que se desdobrou em dar explicações ao rixento treinador, para o que até deixou o jogo em segundo plano. Não pode ser assim. Ao lado disso, Claus, que foi muito feliz na não marcação de penal por conta do toque acidental da bola no braço de um defensor do Corinthians, também foi muito permissivo com as reclamações dos jogadores do Palmeiras, especialmente com Richard Rios, que justamente por ter sido encorajado por tal passividade da arbitragem, ainda teve o desplante de reclamar com Claus no momento da expulsão de Yuri Alberto, não importando que isto tenha se dado pelo entendimento de que a falta teria sido marcada erradamente contra seu time.

Não queremos distribuição de cartões a torto e à direita, até porque não são só os cartões a única forma de controlar um jogo: uma advertência verbal firme, mas com respeito, aplicada a um infrator de modo destacado e com o jogo paralisado, tem efeito psicológico extraordinário para o controle disciplinar de um jogo. Tudo indica, porém, que nossos árbitros se esqueceram desta valiosíssima ferramenta.

Esses são pequenos exemplos de o porquê de nossa arbitragem ser tão complexa e criticada. Nós é que a temos tornado assim. Mas nem tudo são espinhos. Com efeito, a Federação Paulista está mostrando ao nosso futebol como, ao menos neste ponto, o “câncer” dos gandulas pode ser extirpado, ao colocar as bolas substitutas em cones ao redor do campo.

Em dezembro de 2021, em relatório circunstanciado sobre nossa arbitragem, sugerimos, além de outra, esta sistemática ao Sr. Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, mas que nas temporadas de 2022, 2023 e 2024 nada fez, apesar dos graves e corriqueiros incidentes que os gandulas têm provocado em nosso futebol, sobretudo no campo da ética.

Tomara que, com o exemplo da Federação Paulista, a CBF, envergonhada, aja como deve, ao menos neste particular. Com esses pequenos exemplos, no meio do oceano de complicações de nosso futebol, podemos concluir o porquê de a arbitragem brasileira ser tão complexa e controversa.

É preciso, portanto, uma radical mudança de mentalidade para que se compreenda que o estabelecimento de critérios adequados e que as decisões firmes de hoje são a grande prevenção de problemas futuros. Ainda temos esperança.

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