Jogadores de cristal e violação da regra por árbitros permissivos

(Foto: Rodrigo Ferreira/CBF)

A dinâmica desejada para o futebol, que, aliás, é de sua essência para torna-lo atrativo, está cedendo lugar para paralisações longas e indevidas, que vem tornando o esporte rei pachorrento

Acabamos de assistir ao ótimo jogo da final da Copa do Mundo da FIFA de futebol feminino, em que a Espanha, merecidamente, sagrou-se campeã.

A boa condução da partida pela árbitra americana Tori Penso (pena que não foi nossa Edna Batista, talvez em razão das críticas suecas, por conta da dificuldade de comunicação em inglês com nossa árbitra, na partida semifinal em que a Suécia foi eliminada), poderia ter mais brilho caso não sofresse o senão dos longos 14 minutos de acréscimos na 2ª. etapa, que poderiam e deveriam ser evitados.

Não é à toa que temos registrado frequentemente que a regra que mais vem sendo descumprida em um jogo de futebol é a 05 – O Árbitro, no aspecto relativo ao tópico de atendimento aos jogadores lesionados.

Estabelece a indicada regra: “Lesões

O árbitro

. deixará o jogo prosseguir até que a bola saia de jogo, se um jogador estiver levemente lesionado;

. paralisará o jogo se um jogador estiver seriamente lesionado e tomará as medidas para este jogador ser transportado para fora do campo de jogo. Um jogador lesionado não pode ser tratado no campo de jogo …

As exceções à obrigação de deixar o campo de jogo são apenas quando:

Uma lesão grave ocorrer; …

Pois bem, o que se vê aqui, acolá e alhures não é o que a regra determina. De fato, pois todos os árbitros, sem exceção, por mais leve que seja a lesão, estão paralisando o jogo e permitindo que os jogadores sejam atendidos em campo – ainda que a suposta lesão seja na unha do pé –, para, em seguida, determinarem a saída dos jogadores, provocando perda de tempo sem qualquer sentido.

Agindo assim, os árbitros ferem a regra; quebram a dinâmica do jogo; e possibilitam acréscimos que, repita-se, como o da indicada partida, poderiam e deveriam ser evitados.

Vale ressalvar que não estamos nos referindo, como a própria regra excepciona, aos casos de lesão grave, em que o atendimento deve ser imediato (choques de cabeça; quedas ou desmaios súbitos), mas aos casos de supostas lesões em razão de disputas que saltam aos olhos não serem sintomáticas de gravidade.

Disso resulta que os jogadores ou “são de cristal” ou que os árbitros são mal orientados, porquanto, ao atuarem como o fazem, reitere-se, descumprem a regra; quebram a dinâmica do jogo; possibilitam o antijogo por atletas “malandros” ou “espertos”, como preferem alguns mal avisados; e provocam acréscimos que ferem a essência da regra e enfeiam o futebol.

Na referida partida entre a Espanha e a Inglaterra, os mais de 06 minutos para atendimento de uma jogadora inglesa foi algo surreal. Realmente, pois um corte em supercílio, além de não ser lesão grave, teria um atendimento muito mais eficaz com a jogadora fora do campo, pois seria realizado sem precipitação, sem pressão e, por mais importante, sem a longa e injustificável paralisação da partida. A perda de tempo de 06 minutos,

portanto, deveria ser evitada imperiosamente, para cumprimento da regra do jogo.

Disso resulta que os árbitros e dirigentes de arbitragem precisam repensar a atual sistemática de atuação, sendo certo que o fato de alguns jogadores colocarem a bola para fora do campo, por cortesia entre eles, não obriga os árbitros a paralisarem as partidas e ferirem a regra, pois isto, além de tudo, gera os mais variados contratempos, a exemplo de protestos, tensão e, não raro, prejuízo à equipe que se dirigiria ao ataque, além de estimular o denominado “cai-cai”.

A inconveniência dessas paralisações para o futebol é de tal ordem grande que a FIFA e a IFAB–International Football Association Board já deveriam ter enfrentado o assunto, tanto fazer uma redação mais imperativa da regra como para, sobretudo nos casos de lesão de goleiros, possibilitar substituições temporárias.

Por oportuno, já que estamos falando em acréscimos indevidos, não podemos deixar sem registro a paralisação de 04 minutos para a marcação do tiro penal a favor da Espanha, pois, assim como cá, também lá, ao que tudo indica, os VAR´s não conhecem o plano de câmeras e ficam, à semelhança de pescador sem minhoca, lançando o anzol inutilmente várias vezes na água, quando deveriam já saber a câmera apropriada para cada lance. No caso do tiro penal dessa partida, era evidente que a câmera lateral à jogada deveria ser a eleita imediatamente, tanto que foi ela que mostrou a imagem clara que possibilitou a demorada revisão, cuja decisão também deveria ter sido bem mais rápida pela árbitra, ao analisar as imagens no monitor.

A conclusão de tudo é que além de ser grande a necessidade de a arbitragem evoluir e de haver instruções mais objetivas, a obrigatoriedade de cumprimento da regra do jogo é ainda maior.

Repita-se, pois, “A dinâmica desejada para o futebol, que, aliás, integra sua essência e o faz atrativo, está cedendo lugar para paralisações longas e indevidas, que vem tornando o esporte rei pachorrento”.

Jogadores de cristal, árbitros permissivos e instruções inconsistentes! Tudo conspirando contra o bom futebol.

Ao leitor a palavra final.

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