Nota sobre treinamento da CBF

Foto: Divulgação/CBF

Nota sobre a afirmativa da atual Comissão de Arbitragem da CBF, sobre não haver treinamento para os árbitros, inclusive com jogadores, antes de sua investidura.

Quando a ética deixa de ser a base de tudo e a grande diretriz da vida, tudo que é feito, mesmo positivamente, tem cor pálida.

É indispensável nos referirmos ao “estelionato” praticado e anunciado aos quatro ventos pela atual Comissão de Arbitragem da CBF, afirmando que as comissões anteriores não faziam treinamento presencial para os árbitros e, muito menos, usando jogadores. 

Isto é falso e não há justificativa para tão inconcebível postura, em especial porque muitos dos integrantes da atual gestão, senão todos, foram treinados pelas diversas comissões que antecederam à de hoje, valendo dizer que os treinamentos eram feitos com base nas diretrizes emanadas da Fifa: prática em campo, com jogadores e jogadas preparadas; retroalimentação; instrução em classe sobre o conteúdo das regras; técnica de arbitragem; sistema de interpretação, com exibição de vídeos, envolvendo todas as naturezas de lances etc. etc. e dos quais muitos instrutores internacionais participavam. O Brasil, aliás, foi pioneiro em realizar tais treinamentos com base no programa da Fifa denominado RAP (Arbitration Assistance Program).

Seria o quanto basta. Todavia, também julgamos ser imprescindível, para comprovar exatamente ao contrário do que insanamente foi propalado que a partir de 2016, ano da introdução do processo VAR no Brasil, só era possível homologar os nomes dos árbitros – de campo e de vídeo – perante a IFAB e a Fifa, se houvesse extenuante treinamento presencial dos árbitros com jogadores, em partidas completas, parciais e com exercícios de lances simulados relativos ao processo VAR. Isto, por si só, afasta a surpreendentes declaração.

Também é oportuno e adequando observar que esses treinamentos presenciais com jogadores e em classe foram suspensos durante a pandemia da covid-19, o que, porém, ocorreu com a própria Fifa, com a Conmebol, com toda a Europa e o mundo inteiro, enfim.

Não obstante, também é fato que, durante a pandemia, foi implantado um intenso processo de treinamento virtual e que, minimizados os efeitos do vírus, o ensino presencial foi retomado, tanto que vários grupos de árbitros e VAR foram homologados e/ou tiveram reforçadas todas as diretrizes correspondentes.

Não se pode esquecer, de outro lado, que em todos os anos, durante muitos anos, a partir de 2005, e antes dos calendários esportivos serem iniciados, diversos instrutores da CBF visitavam todas as federações e realizavam treinamentos para os árbitros com uso de jogadores e nos moldes acima referidos – padrão Fifa, os quais serviam como meio de selecionar os árbitros para comporem a relação nacional.

Afinal, quem e como teria preparado os árbitros do Brasil que hoje atuam em nosso futebol e, inclusive com muito destaque, nas competições da Fifa e da Conmebol?

O grupo dos bons árbitros do Brasil já estava e está pronto para realizar um trabalho de qualidade elevada. Bastava e basta que sejam acolhidos como seres humanos; respeitados e orientados com base técnica coerente, clara e segura; sem pressão; e, muito menos, intimidação, por meio de punições, que deixam o grupo assustado e inseguro, até por ser certo que as punições públicas nada constroem, senão geram desastre, principalmente pelo tratamento desigual, punindo uns árbitros e outros não, em que pese os erros praticados serem de igual quilate. Fato que corrói o princípio ético da equidade.   

Ao lado disto, também é necessário que a CBF cumpra seu papel de mandatária do futebol brasileiro e adote as medidas profiláticas que sugerimos em relatório encaminhado ao presidente da entidade, para que os bons e esperados frutos sejam colhidos, pois os árbitros sozinhos não conseguem superar essa onda de indisciplina que grassa em nosso futebol e que o tem tornado patético, até. 

O que a Comissão de Arbitragem atual deve fazer, agora e enfim, é trabalhar mirando o futuro e a evolução de nossa arbitragem, com acompanhamento por meio das diretrizes do “Programa de Aprimoramento Contínuo da Arbitragem” pré-existente, mas que hoje, para revelar aparência de inovação, passou a ser denominado de PADA, conquanto ainda sem os profissionais para os anunciados pilares de nutrição e mental, sendo que deste a profissional responsável que foi dispensada e conhecia o grupo de árbitros ainda não foi substituída, revelando diminuição de conteúdo do programa “inovador”.

O constrangimento que sentimos em rebater publicamente essas falsas afirmativas não poderia nos impedir de restabelecer a verdade.

Nossos erros e dificuldades não são encobertos ou superados pelos erros e dificuldades alheios.

Tudo que plantamos, colhemos.

Ao leitor, a palavra final.

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