Ou oito ou oitenta: a burrice endêmica

(Foto: Mailson Santana/Fluminense FC)

Não importa se é velho ou moço, vale o que joga.

Pegue-se, por exemplo, o veteraníssimo Nenê, beirando os 40, de porte físico aparentemente frágil, e veja o que o craque está fazendo no Fluminense. Não só se desloca pelo campo todo como arma as melhores jogadas do seu time e ainda por cima é o artilheiro da equipe. E olhe que ainda ontem foi dispensado pelo São Paulo, por insuficiência técnica.

Agora, espie só que bola redonda está jogando o menino Patrick de Paula, volante do Palmeiras. Protege sua área como poucos, sai jogando com altivez e eficácia nos passes e ainda é capaz de disparar canhotas poderosas de longa e média distâncias.

O diabo é que o futebol brasileiro, por conta de sua gestão incompetente (CBF, federações e clubes), passou a ser assim: ou oito ou oitenta; ou veteranos já descartados pelos grandes centros futebolísticos do mundo, ou garotos que excepcionalmente se destacam na base e que ainda não foram garimpados pelos europeus, chineses e árabes, mas o serão logo quando começarem a tomar corpo e alma de craque.

Sim, porque todos sabem, desde que a bola começou a rolar na Inglaterra vitoriana, que o auge de um jogador de futebol é atingido entre os 25 e 29 anos de idade. Pois essa faixa de idade dos craques brasileiros está toda no Exterior. Basta verificar o simples fato de que é essa turma que compõe a maioria dos convocados de hábito para a Seleção Brasileira.

O diabo é que o veterano logo perde a energia diante de calendário tão estúpido como o nosso (e não apenas pela pandemia) e o garoto não tem tempo de maturar adequadamente, e, quando isso acontece, já está de malas prontas no aeroporto.

Só pra se ter uma ideia da insanidade de nosso calendário, Jurgen Klopp, técnico do Liverpool super campeão na temporada passada, não escondeu sua surpresa, às vésperas da decisão do Mundial de Clubes, quando soube que o Mengão encerrava o ano com mais de oitenta jogos disputados. Um absurdo!

Isso, somado à paranoia do resultado, que provoca demissão de técnico de futebol aqui a cada cinco minutos, o que, por questão de sobrevivência, faz do treinador brasileiro um retranqueiro em cada esquina, resultando em espetáculos deprimentes em campo, com raras exceções, é claro.

Espetáculo ruim gera queda de receitas, início do ciclo vicioso em que vivemos.

Bem que a pandemia poderia servir de mote pra que nossos cartolas dessem uma grande virada nessa situação, a partir do estabelecimento de um calendário decente e racional. Mas, se eles escapam do vírus mortal, não conseguem evitar a outra endemia tupiniquim: aquela provocada pelo vírus da burrice.

5 comentários

  1. Alberto Helena Jr.

    Não é bem burrice que permeia o entorno do futebol na figura dos dirigentes, acho que a coisa anda mais de mãos dada com corrupção, negociatas e política essas sim não endêmicas mas sim pandemicas em nosso futebol há décadas, a torcida vê com indignação, raiva e triteza que as coisas no futebol não se restringem só ao futebol praticado dentro das quatro linhas, mas principalmente ao que é praticado de forma desonesta, obscura fora do futebol, times são levados ao rebaixamento por esquemas de corrupção dentro e fora do clube, veja o exemplo do Cruzeiro, que há alguns anos era campeão brasileiro e hoje se arrasta de forma vergonhosa na série B do campeonato brasileiro flertando com o rebaixamento naquela competição atualmente e se bobear vai para a série C para fadado a viriar uma Portugesa de Desportos outro exemplo de ao mesmo tempo burrice e safadeza de seus dirugentes que entregaram o seu time de bandeija para “beneficiar” outros uma coisa que deixaria até a Salomé (que pediu a cabeça de não sei quem em uma bandeija) envergonhada, porém é também grande a responsabilidade da alegrinha crônica esportiva brasileira, clubista, sem ética, que vê muitas coisas acontecerem e simplemsmente fecharem os olhos, principalmente “por conceniência” passando pano e iludindo as torcidas de todos os clubes, naquela de fez e daí tudo bem, não enxergo, não vejo nada e não escuto feito aqueles três macaquinhos por todos nós conhecidos….uma vergonha como diria o Boris Casoy….rindo até 2026. Saudações palmeirenses.

    1. Brilhante comentário do Helena, o Mengão conseguiu jogar futebol de igualdade com o Liverpool, até o tempo nirnal5,mas devido ao excesso de jogos foi superado pelo cansaço na prorrogação, mas com o elenco que o Mengão formou este ano isso não acontecerá mais!!

  2. Boa noite.
    Brilhante comentário como sempre! Parabéns…
    Gostaria que o Sr Alberto Helena Jr estivesse equivocado mas infelizmente, não está
    Um abraço a todos vocês que assim como eu, aprecia verdadeiros profissionais como o Sr Helena…

  3. Caro Helena, por favor não insulte os burros, o burro é um animal com personalidade quando decide dar um basta, nada faz ele mudar de ideia. O cavalo, cachorro não possuem as virtudes dos burros.
    Quando a mesmice endêmica tem suas origens na corrupção, clubismo e amadorismo. Todos falam em gestão profissional, mas se você vai a um Clube e oferece alternativas tais como: Treinamento de habilidades, aprender um simples NÃO VERBAL, executar treinamentos muito diferente dos atuais que datam de 1900. Dão risada na sua cara, talvez não conheça as 100 desculpas mais famosas, mas já houvi todas elas muitas vezes. Andei pelo Brasil de Norte a Sul de leste a Oeste tentando achar alguém para pelo menos deixar eu fazer uma demonstração simples: Bater faltas a nível de 80% de acertos ou ensinar os goleiros a defender os tiros penais não pela loteria, mas sim pela ciência, nunca me deram essa oportunidade. Como alguém pode saber se alguma coisa funciona se não deixam você fazer uma demonstração de 10 minutos. Nossos dirigentes tem horror a ciência, física e a tecnologia. Perguntei a um famoso psicologo do esporte se ela acreditava em milagres, a resposta foi virulenta e grotesca, ele não conhece a origem da palavra. Milagre é qualquer coisa fora do ordinario, simples assim isso demostra que todo o ambiente está contaminado pela ignorancia, corrupção, medo do novo. A frase o que foi bom pro meu pai é bom pra mim, atrasou a humanidade mais que todos os outros fatores juntos.
    Nosso problema é cultural, nosso povo é despreparado, nossa educação é péssima, nós não enxergamos nada em nossa frente e isso infelizmente não vai mudar. São três coisa que precisamos para mudar esse país: Educação, Educação, Educação.

  4. Helena Jr, concordo em número e grau com sua tese sobre jogadores veteranos e jovens. Claro que vir a ser um jogador profissional de futebol é uma ambição de milhões de garotos espalhados pelo mundo, principalmente no Brasil . Um grande sonho como esse, quando realizado e intensamente vivido, pode cansar. Treinos constantes e exaustivos, excesso de concentrações, contusões e dores causadas pelo desgaste físico, ,longas viagens, fins de semana distante de familiares. São muitos os motivos que podem fazer um atleta veterano enjoar da sua rotina do futebol. Grande parte desses atletas aguentam firme até que o corpo dá mostras de que chegou a hora de parar. Mas alguns não esperam esse momento chegar. Realizados financeiramente e quando sentem que a motivação deu lugar a uma rotina tediosa e cansativa, encostam o corpo no clube até terminar o vigente contrato e se aposentam

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