
Dunga, que parece incapaz de se livrar de rancores antigos, disse uma verdade por linhas tortas, ao se referir a essa comparação que se faz sobre a atual geração de jogadores da Seleção com as antecessoras.
As linhas tortas da fala de Dunga nos remetem à Seleção de 94, que também teria sido vítima desse tipo de comparação e acabou ganhando a Copa depois de vinte e quatro anos de fila.
Sucede que, à época, estava ainda muito viva na memória do torcedor brasileiro aquele maravilhoso time de 82, que perdeu para entrar na história, ao lado da Hungria de 54 e da Holanda de 74, num nicho da galeria dos imortais superior ao da maioria de outros vencedores. Mas, o fato é que a Seleção de 94 era composta de muitos jogadores excepcionais – e reconhecidos como tal -, a exemplo de Romário, Bebeto, Muller, Ronaldinho que viraria Fenômeno logo depois, Mazinho, Raí, Taffarel, Jorginho, Branco, Leonardo, Cafu etc.
A verdade é que você só pode fazer esse tipo de cotejo depois da história de cada um encerrada. E, mesmo assim, há tantas variantes…
Por exemplo: a que marcas nos levaria Jesse Owens, o herói de Berlim, se tivesse sido criado como Usain Bolt, esse fenômeno das pistas, submetido a todas as técnicas de treinamento, nutrientes, equipamentos e outros bichos disponíveis oitenta anos depois de seu feito nas Olimpíadas de Hitler?
Ainda ontem, via pela tv o amistoso entre Alemanha e Eslováquia. De repente, o dia virou noite em Augsburg e desabou um temporal de granizo de meter medo no Homem de Ferro e no Capitão América, ao mesmo tempo. Aí, você olhava o gramado e era de um verde primaveril. Mesmo assim, o juiz levou quase uma hora pra reiniciar o jogo suspenso ainda no intervalo.
Fiquei, então, lembrando do que era jogar futebol por aqui nos anos 50/60, com aquelas chuteiras de couro vagabundo que, molhadas, pesavam uma tonelada, chutando uma pelota de capotão transformada em bola de ferro sob a chuva num campo que era verdadeiro charco à primeira chuva de verão.
Pois foi nessas circunstâncias que vi a partida mais emocionante e tecnicamente bem jogada de minha vida até hoje: aqueles célebres 7 a 6 do Santos sobre o Palmeiras, no Pacaembu, em 1959, se não me turva a memória.
Quero dizer, pois, que esse tipo de comparação caminha sobre o fio da navalha das circunstâncias. Ainda mais quando se trata de definir o valor total de uma geração ainda em atividade, muitos desses jogadores raiando para o futebol.
Até onde podem chegar, por exemplo, um Gabigol, um Neymar, um P. Coutinho?
Formar hoje uma opinião definitiva sobre a atual geração é precipitado. Tampouco será decisivo, pra tanto, vencer a Copa América ou mesmo a Copa do Mundo. Pois, nesses casos, o que fica na memória do torcedor, no fundo, é aquele cintilar histórico do jogo bem jogado, vencendo como em 70 ou perdendo como em 82.
Eu tenho uma opinião. Tudo que vem de Dunga não merece a mínima credibilidade. Dunga é o mais ilegítimo campeão de 94 simplesmente porque ele mesmo não se reconhece como tal. Nunca vi Dunga rindo, feliz, contando algo daquela copa de 94. Ele no fundo é um derrotado pela própria natureza de ser. Um cara desses nunca liderará o Brasil numa copa.
Bem lembrado e valido seu comentario.