Peixe e Audax, o salto de qualidade.

Fernando Diniz e Dorival Júnior. (Fotos: Fernando Dantas/Gazeta Press)
Fernando Diniz e Dorival Júnior. (Fotos: Fernando Dantas/Gazeta Press)

Enquanto na Inglaterra e na Espanha percebe-se um certo refluxo no avanço formidável nos planos táticos e técnico das últimas décadas, com os desempenhos vitoriosos de dois retranqueiros de plantão – Leicester, prestes a levantar o título inglês, e Atlético de Madri, acossando o Barça que neste sábado venceu e segue líder apertado -, aqui na velha província damos um salto de qualidade com a decisão do Paulistinha entre Audax e Santos.

Sim porque esses dois são uma grata exceção num futebol que abdicou de suas características históricas para abraçar o famigerado futebol de resultado (traduzindo: retrancas e chutões ao léu).

O pequeno Audax e o campeoníssimo Santos, não. Ao contrário: põem a bola no chão, trocam passes desde lá de trás, procuram envolver os adversários até chegar ao gol inimigo que é o objetivo real do jogo.

E o mais importante: ambos revelam que não é necessário grandes investimentos na formação dos respectivos elencos para se obter esse tipo de resultado. Tampouco, longo tempo de treinamento, pontilhado de insucessos antes de se chegar ao ponto ideal, ou próximo disso.

O Santos, que tradicionalmente utiliza-se de seus Meninos da Vila, só está em situação financeira precária por conta das lambanças feitas pelas diretorias anteriores. A maior delas, sem dúvida, aquela inexplicável e suspeita contratação de Leandro Damião, um artilheiro em franco declínio, por uma fortuna injustificável.

E o Audax, catando aqui e ali as sobras do mercado, sob o olhar arguto de seu treinador, Fernando Diniz, mais economizou do que investiu.

O que conta mesmo é o conceito de jogo aplicado com convicção pelos dois treinadores, com apoio das respectivas torcidas e diretorias. Pois esse conceito se baseia no princípio básico de que jogador gosta, antes de mais nada, de jogar bola. Isso é intrínseco, está cravado na alma do cara que resolve trocar qualquer outra profissão por essa, desde menino.

Resta, portanto, dar-lhes essa oportunidade, estimular o gosto pelo futebol bem jogado, com traços de arte e desejo de atacar, fazer gols, oferecer, enfim, um espetáculo àqueles que pagam, no passar da régua, os seus salários.

Ganhar ou perder é do jogo. E jogo, qualquer jogo, até o de xadrez, talvez o mais científico de todos, tem uma significativa margem de risco. Então, que esse risco se dê tentando construir algo, não apenas com a preocupação de destruir as eventuais construções alheias.

Isso, claro, óbvio, elementar, não quer dizer que se deva desprezar inteiramente o sentido defensivo de uma equipe de futebol. Mas, há que se priorizar um ou outro, pois o tal equilíbrio, de fato, não passa de mero eufemismo para designar a escolha errada – não tomar gol.

Não é esse o objetivo do jogo. O objetivo, a meta do embate, na tradução literal do inglês, é o goal, gol. Tá no dicionário. Pena que nossos treinadores, cartolas e muita gente da crônica esportiva, em geral, passem ao largo desse e de outros livrinhos essenciais.

Nas voltas que o mundo dá, quem ficar parado uma hora será realçado ao centro dos acontecimentos, pois tudo vai e vem, em forma de espiral, evidente, como se a vida fosse uma representação do DNA humano. Mas, na soma dos acontecimentos, isso acaba sendo efêmero, Pois, o que avança sempre e permanece vivo é a arte, o engenho humano. Sobretudo no futebol, que é uma autêntica representação do nosso dia-a-dia.

5 comentários

  1. sr Alberto Helena Jr nos dias de hoje que qualque um que não tem a menor capacidade para ser jornalista na maioria das vezes só é porque tem um amigo ou um parente influente que os mantem é muito bom que exista uma pessoa assim inteligente elegante e sabia igual ao o sr sou sua fam, não vou falar nada sobre os dois times porque o sr já disse tudo parabéns sr Alberto

  2. Desde muito moço, delicio-me com seus sempre inigualáveis, sóbrios e corretos comentários, Sinto-me feliz por chegar aos 40, e ainda ler linhas traçadas por essa ilha de sabedoria, ética e isenção chamada ALBERTO HELENA JUNIOR, em meio a essa boçal crônica esportiva tupiniquim. Que Deus siga lhe dando saúde para que o Senhor continue nos brindando com suas lições não só futebolísticas, mas de vida. Obrigado.

  3. Como sempre Mestre ALBERTO HELENA comentando com elegancia isençao e sabedoria

    coisa rara em nossa idiotizada imprensa esportiva

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