Certa vez, quando no auge da sua vitoriosa performance à frente daquele São Paulo tão pragmático, meu querido Muricy disse que quem queria ver espetáculo fosse ao teatro. Isso, claro, foi antes daquele estupefaciente encontro de seu Santos com o Barça, lembra?

Pois, a tv, quando anuncia a transmissão de um jogo do Barça, não se refere a jogo de futebol, disputado, vitória, emoção, nada disso. Chama o telespectador para mais um show de bola dos catalães. Ou seja, um espetáculo digno de ser exibido no Scala de Milão: um balé coletivo, ritmado, às vezes sincopado, às vezes, linearmente frenético, com solos de Messi, Neymar, Suárez, Iniesta e cia. bela.

E, nem por isso, menos eficiente. Basta somar os pontos, o número de vitórias, a série invicta espantosa do Barça para o amigo verificar que não há espetáculo mais pragmático do que esse no planeta bola.

Uma coisa não exclui a outra. Ao contrário: todo técnico de time grande tem o dever básico de buscar a excelência; ou seja, obter resultados jogando bonito, cada um claro, diante da qualidade do elenco de que dispõe.

Uma Seleção Brasileira, por exemplo, em qualquer época, pela técnica e habilidade de seus jogadores, terá sempre que buscar essa excelência. Mesmo nestes tempos vesgos em que reclamamos de falta de talentos, quando a maioria dos nossos selecionáveis brilha nos principais centros futebolísticos do mundo.

A propósito, bem que a visita feita por Dunga a Luís Enrique com vistas à vinda de Neymar para o time olímpico, poderia se estender a alguns detalhes de ordem tática e técnica.

E, se Dunga teve a curiosidade de ver o Barça, neste sábado, meter 6 a 0 no Getafe, com dois de Neymar – placar modesto, diga-se, diante das chances criadas, inclusive um pênalti perdido por Messi -, terá visto esse ataque arrasador jogar sem um centroavante típico.

Luisito Suárez, que de típico nada tem, pois é veloz, mexe-se o tempo todo e sabe jogar com a bola nos pés, ficou fora e em seu lugar entrou Munir, um atacante canhoto, hábil e rápido, habituado a jogar pelos lados do campo.

Falo essas coisas pensando no ataque que Dunga poderia escalar para os dois próximos jogos do Brasil nas Eliminatórias, com o elenco convocado: Willian, Neymar e Douglas Costa, com P. Coutinho fazendo as vezes de Iniesta, e Renato Augusto, na de Rakitic (hoje, jogou Arda Turan, um meia ainda mais ofensivo, autor, aliás, de um belo gol de puxeta).

Como nossa defesa toda joga lá fora e está acostumada a atuar mais à frente, não dá pra dizer que jogador brasileiro não sabe jogar assim, com a defesa alta e todos marcando, o que dispensa a presença de mais um volante. Ao mesmo tempo, aproxima os jogadores, uns dos outros, facilitando dessa forma a troca de passes, a base do jogo.

É só uma questão de conceito. E, de peito, meu!