Por las puntas!

filpoPor las puntas! – bradava Don Filpo Nuñes, o malandro de camisa de seda, como ele mesmo gostava de se autodenominar, técnico da Academia dos anos 60. Aliás, o único estrangeiro a comandar uma Seleção Brasileira, no jogo festivo da inauguração do Mineirão contra o Uruguai, em que o Brasil foi representado pelo Palmeiras.

Mas, voltando à palavra de ordem de Don Filpo, posso assegurar ao amigo que o brado não chegava aos ouvidos dos jogadores, embora o Palmeiras da época tivesse pontas de respeito; por exemplo: Julinho, o melhor de todos na história do nosso futebol (um Cristiano Ronaldo menos enfeitado de sua época) e Rinaldo, entre outros, que os sucederam, como Gildo, Copeu, Gallardo…

O fato é que era pelo meio que aquele Palmeiras encantado construía sua legenda. Pudera! Lá estavam Dudu ou Zequinha, Ademir da Guia, Tupãzinho, Servilio de Jesus Filho, Artime, César, Ademar Pantera, mais tarde, Suingue, Jaime, sei lá quantos mais que faziam da bola um objeto de arte em movimento.

Jogar pelas pontas sempre foi um recurso a mais, não o caminho único que a turma trilha por aqui nos últimos tempos como a salvação da lavoura. Em geral, aplicando o tal overlaping difundido há mais de trinta anos pelo meu saudoso amigo Cláudio Coutinho. Ou seja: a ultrapassagem do lateral pelo ponta e vice-versa.

A questão é elementar, pois se há uma faixa do gramado mais protegida pela defesa é exatamente ali, a extremidade. O ponta ou lateral que por ali avance terá já dois obstáculos naturais, além do marcador: as linhas demarcatórias da lateral e do fundo do campo. Pelo meio, porém, as alternativas de jogadas são infinitas.

Ah, mas é que nestes tempos bicudos a turma arma uma retranca feroz a partir do meio de campo que só resta atacar por las puntas, como indicava Don Filpo.

É verdade. Mas, não esqueça o amigo que a retranca, o ferrolho, o cadeado, seja lá como queira chamar essa coisa,  é mais velha do que andar a pé. A diferença é que nos tempos da Academia os jogadores de meio tinham habilidade suficiente para rompê-la, fosse na troca de passes rápidos e exatos, como faz hoje o Barça, por exemplo, fosse no drible, na invenção individual.

Justamente pela falta de habilidade e criatividade de nossos atuais jogadores de meio, quase sempre recheado de volantes sem imaginação, é que vemos esse enxame de bolas alçadas à área para deleite dos becões e dos goleiros.

Por dever de ofício, sou obrigado a me entediar com esse lugar-comum repetido todo fim de semana.

É quando abro a janela pro mundo e busco refrigério, por exemplo, no Arsenal.

Entra ano, sai ano, e lá está o discreto e elegante Arséne Wenger, mesmo vivendo longos períodos de estiagem de títulos, firme nas suas convicções num jogo jogado de pé em pé, com apenas um volante que sabe sair, como gostam de dizer por aqui nossos comentaristas,  e uma plêiade de meias de habilidade e presteza: Cazorla, Arteta, Ramsey, Wilshere, Ozil, Ox-Chamberlain, sei lá quantos mais. Sem contar os meninos que ele garimpa pela Europa.

Sim, porque o bicho, apesar de ter os cofres do clube abarrotados, prefere mesmo é gastar pouco e apostar no futuro das jovens revelações, sobretudo de sua terra, a França.

É o caso desse garoto de 17 anos de idade, Adelaide, negro espigado, cheio de dribles e passes inventivos, que tanto atua pelos lados do campo como pelo meio, e que nos encheu os olhos neste fim de semana, quando o Arsenal, no sábado, meteu 6 a 0 no Lyon e, no domingo, com o time todo mudado, fez 1 a 0 no Wolfsburg, levantando a Emirates Cup, tradicional torneio de verão inglês.

Ou muito me engano, se não tropeçar numa dessas esquinas da vida, esse menino, em breve, estará valendo ouro em pó.

Enquanto isso, ficamos por aqui repatriando velhos ídolos, a peso de ouro, repetindo os mesmos chavões táticos e ouvindo a voz das arquibancadas que só sabe bradar por raça, raça, raça.

 

4 comentários

  1. Quero fazer um registro e louvar o Senhor Alberto Helena, PVC da Fox, Caio da Globo, como vê dá para contar nos dedos, os bons, equilibrados, tem conteudo no que falam os comentaristas de futebol, temos uma safra horrivel de jornalistas esportivos, reporteres de campo então, só temos dois bons, Garrafa da Gazeta e, Cicero Mello, o resto pelo amor dos meus filhinhos são de regular, pessimos, Locutor esportivo, só temos dois de nivel, José Silverio, e Silvio Luiz, programas esportivos de nivel, diferente só temos o Bem Amigos, e fico aqui me perguntando, o que deu na cabeça daqueles caras trocar o senhor por aquela anta mau humorado que senta no seu lugar, nem o nome do paspalho me lembro agora, mas o senhor sabe quem é. São muitos jornalistas que se vendem por interesses elogiando ou criticando algum jogador, dirigente a troco de dinheiro, são jornalistas presos por difamação, mentiras, São apresentadores de programas esportivos arrogantes, prepotentes, usam vocabulario indecente, e sempre tem o lixo na boca, As faculdades do jornalismo formam imbecis que depois utilizam uma caneta e um microfone e nem sabem o que falam.

  2. Prezado Senhor Alberto Helena, acho seus comentários sempre muito objetivos e elucidativos. Desde infância, aprendí a gostar do Palmeiras, quando meu tio, Pedro Fischetti, (segundo Cesar e Dudu), aquilo que era dirigente.
    Com pulso forte, intelegencia e visão administrativa o Dr. Paulo Nobre, está levando a Sociedade Esportiva Palmeiras no patamar dos grandes clubes, vencedores técnica e organizados financeiramente.
    Parabéns por lembrar do Filpo Nunes! Forte abraço e que Deus lhe dê muita saúde

Deixe um comentário para Isauro Fischetti Canella Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *