Essa gente entrega a mãe, assim, ó, sem piscar um olho. Lá da Suiça, onde fora para votar em Sepp Blatter na Fifa na qualidade de presidente da CBF, Del Nero mandou retirar o nome de Marin, seu parceiro de longa data, da entrada do novo prédio da entidade nacional e cassou-lhe o título de vice-presidente. Em seguida, fez as malas, e, mesmo antes da votação na Fifa, escafedeu-se (gosto deste termo que sugere uma combinação dos verbos escapar e feder, como quem escapa e deixa um cheiro fétido em seu rastro) de volta ao paraíso dos corruptos.

Isso, no momento em que Romário, o senador, num átimo, colhia assinaturas suficientes para abrir uma CPI sobre a CBF de Del Nero, a quem ele chamou publicamente de “safado, corrupto e ordinário”.

Até agora, pelo que se sabe pela imprensa, o nome de Del Nero não surgiu ainda nas investigações reveladas pelo FBI.

Mas, dadas às íntimas relações de Del Nero com Marin, preso lá em Zurique, o senso comum diz que, mais cedo ou mais tarde, isso será esclarecido. Afinal, ambos dividiram por um bom tempo a gestão da Federação Paulista de Futebol, e, na sequência, seguiram de mãos dadas na tomada da CBF, depois da fuga de Ricardo Teixeira, onde fizeram a deletéria dobradinha: Marin, presidente; Del Nero vice; Del Nero, presidente; Marin vice.

O desfecho disso tudo me faz lembrar de um verso de velha moda de viola eternizada na voz de Inezita Barroso: o pinguço sendo carregado, de braços dados, com dois soldados.

Mas, aqui entra o pior da história toda.

Quem deu asas a Marin e Del Nero? Os clubes, que votaram neles para a presidência da FPF. E as federações estaduais e clubes que votaram neles para a CBF. O mesmo sistema que elegera e reelegera por décadas Ricardo Teixeira, e, antes dele, Nabi e cia ltda.

Quer dizer: o buraco é mais embaixo. A incúria e o despautério começa já na base do futebol brasileiro. E, se formos mais fundo, quem elege os presidentes dos clubes que, por sua vez, elegem essa gente para os cargos superiores? O corpo associativo dessas entidades, os sócios e conselheiros.

Até parece com o que ocorre num país que conheço. As madames, patricinhas e mauricinhos ou coxinhas, como preferem hoje,  vão aos bandos numa tarde de domingo ou noite de sexta-feira paquerar na avenida Paulista, portando cartazes contra a corrupção dos políticos. Os mesmos políticos que eles acabaram de eleger, que, se não são eventualmente do partido do governo, usam o distintivo de algum aliado ou mesmo da oposição, mas, em geral, corruptos de várias maneiras.

Pois, na política, corrupção não é só tomar dinheiro ilícito. É também corromper seus ideais e programas.

Resumindo: ou viramos cidadãos de fato, com a devida consciência do que isso significa, ou continuaremos a participar desse teatro infantil desempenhado pelas figuras grotescas a que estamos acostumados a não só conhecer de cor como ainda por cima aplaudir.