Ali, Moore, filmes na memória

Foto: Reprodução do filme Breakheart Pass (Trem do Inferno)
O maior campeão dos meio-pesados da história do boxe no papel de bandido travestido de cozinheiro num trem da morte com Charles Bronson

Outro dia estava vendo na tv um desses bangue-bangues dos anos 70, estrelado por Charles Bronson, quando aparece em cena um negrão de cabelos e barba brancas fazendo o papel de bandido travestido de cozinheiro num trem da morte.

Conheço esse cara, pensei com meus botões. Vou à lista do elenco do filme e lá está, entre os figurantes, o nome do cara: Archie Moore.

Pra quem não sabe, foi o maior campeão dos meio-pesados que a história do boxe já forjou. Seu nome está ali ao lado de Ray Sugar Robinson e Joe Louis, a santíssima trindade do boxe dos anos 30/40/50 e de sempre.

Só para o meu jovem amigo ter uma vaga ideia do que era Archie Moore e o boxe de sua época, busque no You Tube a luta em que ele, aos 44 anos de idade, manteve o título mundial diante do jovem e potente campeão canadense Yron Durrelle. Um portento! Só no primeiro round, Durrelle o derrubou três vezes. E assim foi o combate com um jogando o outro à lona várias vezes, até que o campeão alcançasse o nocaute pra lá do décimo round.

Lembrei-me, então, que não apenas conhecia o cara como toquei em seus bíceps de aço. Isso mesmo. Foi lá por volta de 1958, quando eu estudava no Colégio Pucca, a um passo da Academia de Boxe de Kid Jofre, na Cásper Líbero, onde Archie Moore se preparava para uma luta-exibição no Ginásio do Ibirapuera com o nosso Luisão. Fui lá xeretar o treino e, de repente, me vi tocando com o dedo o antebraço do campeão mundial, assim como outros rapazes que ali estavam.

Foto: Acervo/Gazeta Press
Foto: Acervo/Gazeta Press

Ficaria horas aqui falando de Archie Moore e daqueles tempos dourados do boxe, da exibição daquela noite, que assisti de arquibancada. Moore ficava ali, com aquela guarda cruzada apenas cutucando Luisão com jabs inofensivos até que, num dado momento, o brasileiro se entusiasmou com a gritaria da plateia e tentou levar a coisa a sério. Moore deu-lhe um chega pra lá que amansou o bicho na hora.

Tudo isso me veio à lembrança a propósito da celebração dos quarenta anos do confronto pelo título mundial entre Muhammad Ali e George Foreman, na África, uma luta memorável. Foi a noite em que Ali, o bailarino, a vespa que picava e voava, picava e voava, sentou-se nas cordas e ficou ali só aparando os golpes do oponente, round após round, até que, de súbito, soltou um-dois e completou com um direto um dos nocautes mais espetaculares da história da nobre arte.

Um golpe de mestre de Ali, que trocou os punhos e o jogo de pernas por uma estratégia absolutamente inesperada, coisas de um gênio que passou a integrar o mesmo nicho da galeria dos imortais, ao lado de Ray, Joe e Archie.

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