Verdão, ao vivo, pela primeira vez

Acervo/Gazeta Press
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A primeira vez que o vi pessoalmente, ele era um jovem de 36 anos de idade que adotara o novo nome havia oito. Garboso em seu uniforme verde e branco, ele ainda nãos ostentava as cinco coroas – a mais valiosa delas acaba de ser reconhecida pela Fifa como um autêntico título mundial, a Copa Rio de 1951.

Mas, estava prestes a conquistá-las naquele início dos anos 50, quando o Palmeiras foi fazer um amistoso com o Juventus, na Javarí, numa tarde de quarta-feira de chumbo e abafada.

Até então, aqueles nomes todos ressoavam nos ouvidos do menino do Brás pelo rádio, na voz do Pedro Luís, com quem trabalhei, décadas depois, nos seus últimos anos de vida: Oberdã, Waldemar Fiúme, Túlio, Lima, Jair Rosa Pinto, Rodrigues… Menos Turcão, o Alberto Chuairi, com seu bigodão farto, peito largo, pernas arqueadas feito cowboy de cinema, que nós víamos descer do caminhão da Antártica na porta do bar da dona Lili, mãe do poeta e jornalista Carlos Acuio, que entre outros feitos namorou Nara Leão e Helena Ignês, musa do Cinema Novo,na esquina da rua Costa Valente com a Coimbra. Turcão recebia os pedidos dos engradados de cerveja e guaraná, e voltava sorridente para o caminhão, sob o olhar extasiado da molecada que ali se reunia como se chamada por um aviso misterioso.

Sim, porque naquele tempo jogador de futebol que tivesse juízo ia logo arrumando um emprego estável numa fábrica, numa repartição pública, num banco, pois o salário e o bicho do futebol não garantiam o futuro de ninguém. E, sacumé, uma perna quebrada, um joelho estourado, e o craque, no dia seguinte, virava lembrança, pois a medicina esportiva não fazia os milagres de hoje.

Do outro lado, com a camisa avinhada do Moleque Travesso, um ex-palmeirense de renome, já a caminho da aposentadoria, um negro alto, cabeça raspada coberta por um gorrinho branco, que atendia pelo estranho nome de Og, Og Moreira, o Paganini do Futebol, pelo refinamento com que tratava a bola como se a cada toque na bichinha produzisse sons de um violino de cristal.

Bola rolando, dava gosto de ver a versatilidade de um Eduardo Lima, o Bambino D’Oro, que surgiu e se despediu no Parque Antártica depois de mais de dez anos de relevantes serviços prestados ao Palmeiras; os dribles curtos e passes exatos de Canhotinho, um meia mirrado de rápidos reflexos; os lançamentos e disparos de Jair Rosa Pinto, cérebro puro com alma de gelo; Fiúme, na sua elegância só comparável à eficiência, o Professor ou Pai da Bola, como era chamado; o Rodrigues Tatu, ponta-esquerda de Seleção, revelado pelo Ypiranga, recém chegado do Fluminense, dono de uma canhota poderosa, essa turma toda, sem falar em Oberdã Cattani, já um mito alviverde.

Não me lembro se terminou 4 a 0 ou 4 a 1 para o Palmeiras, claro, pois houve um gol que minha memória vacila entre ter sido anulado ou não,  de Edélcio, meia e centroavante revelado pelo Corinthians, tecnicamente bom jogador, mas, sempre às voltas com o peso.

Bem, depois disso, me fartei de ver os vários Palmeiras que foram se sucedendo ao longo destas últimas seis décadas, em campo e pela tv.

E, se o amigo me fizer a maldade de pedir minha seleção verde de todos estes tempos, deixarei de fora, claro, craques inexcedíveis. Isso, sem falar nos que não vi jogar, como Heitor, Junqueira, a célebre linha média Pepe, Gogliardo e Serafini, popularmente conhecida como Sissi, Gasosa e Guaraná, três refrigerantes famosos da sua época, Ministrinho e tantos outros.

A começar pelo goloeiro: Oberdã ou Marcos? Permitam-me fundir os dois – Marcos Cattani, pronto!

Na linha de defesa, Djalma Santos, Luís Pereira, Fiúme e Geraldo Scotto. No meio de campo, Dudu, o Divino Da Guia, Jair Rosa Pinto e Chinesinho. No ataque, Julinho Botelho e Mazzola, o Altafini dos italianos.

Antes que a turma me atire todas as pedras, prometo que a partir de amanhã, darei minhas explicações, tintim por tintim,  posição por posição, numa modesta homenagem ao centenário do Palestra/Palmeiras, o maior conquistador do Século XX.

 

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