Neymar que se cuide

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Pelo cheiro da brilhantina que exala das palavras de Gilmar Rinaldi e Dunga sobre comprometimento, estrelismos e outros bichos, Neymar que se cuide, pois ele é sempre alvo fácil para os demagogos moralistas de plantão. Esse discurso costuma tocar a alma tosca das massas, e não falo só de futebol.

E olhe que Neymar, gravemente machucado, nem participou dos vexames diante da Alemanha e da Holanda. Ao contrário: enquanto esteve em campo, foi o artilheiro do time e o rei em assistências, além de desmoralizar adversários com suas arrancadas solitárias.

Mas, quando Dunga, que, apesar do clamor público, se negou a chamá-lo em 2010 e deve guardar o ranço disso, dá indiretas sobre a necessidade de o craque da equipe jogar pelo conjunto, dirige-se, claro a Neymar, o único craque do Brasil. Nem precisava, pois poucos craques nu mundo são tão participativos, taticamente, do que Neymar. Ajuda na marcação, joga pelos lados, pelo meio, armando ou atacando.

Mas, e o cabelinho pintado? E a presença perturbadora da bela Marquezine ao seu pescoço? E tantas câmeras e microfones assestados em  Neymar de manhã à noite. E essas Neymaretes histéricas à beira do campo?

Não há como aceitar tais desplantes. Reco é reco e tem de entrar em formação à primeira palavra de ordem do chefe e ali ficar até receber a contra ordem.

Então, meu caro Neymar, um conselho de amigo (da onça): corte a carapinha ao natural, de preferência à escovinha, espetado ao fashion capitão, troque a Marquezine por uma baranga sem tempero nem viço, treine todo dia diante do espelho a batida de continência de praxe e deixe dessas frescuras, meu, que aqui o negócio é sério.

Ah, sim, de preferência, jogue na lata do lixo todos aqueles dribles, invenções e investidas à área inimiga, e fique de olho no lateral deles que é sempre um perigo iminente, mesmo que ele mal saiba a cor da bola.

E assim, meu camarada em armas, você será um homem feliz para sempre, em meio a tanta infelicidade.

Arte eterna

Belo comentário do amigo que se assina Inglês. Vale a pena a turma ler.

Só discordo de que a arte seja coisa do passado. Ela é, talvez, a maior invenção do homem, um canal pelo qual tenta expressar sensações que estão na essência da alma humana. Pode mudar de forma, técnicas, materiais etc., mas sempre será arte, esse suspiro que vem lá do fundo da nossa origem e seguirá avante até esta bolinha azul perder a cor e a vida.

Trazendo para o campo de jogo, o que fez a Espanha em 2010? Jogou futebol/arte, com habilidade e inteligência. E que dizer da Alemanha, que, com arte e ciência, destroçou a pobre horda robótica que vestia a camisa amarelinha?

Acrescente aí, amigo, o Barça e o Bayern de Guardiola, encantadores vitoriosos de quase tudo nos últimos anos.

E verá que temos, sim, uma luzinha no fim do túnel tremulando. O diabo é que esse povo ai, composto de Marins e Del Neros, Felipões e Dungas, não enxerga um palmo adiante do nariz. Ou fingem não enxergar esperando assim nos manter na escuridão do atraso, como se os seus atos não estivessem ao alcance de nossos olhos. É a história da avestruz, meu.

Prova do que digo é a imensa rejeição, coisa de 85 por cento, que a escolha de Dunga provocou na opinião pública.

O torcedor pode, às vezes, misturar alhos com bugalhos, levado pela paixão. Mas, uma coisa não se altera: ele exige um futebol bem jogado, tramado, com belas jogadas e muitos gols. Não só da Seleção, mas, sobretudo, dela.

Até pouco tempo atrás, havia uma corrente que creditava a falta de público nos estádios (uma catástrofe se comparado o País do Futebol aos menos categorizados do mundo – levamos de lavada nesse quesito também) às más condições das instalações dos velhos campos de futebol, aos gramados mal cuidados etc.

Claro que isso contribuía, assim como o tal horário das dez da noite e o alto preço dos ingressos para o coitado e mal pago povo brasileiro.

Mas, o fato é que inundaram o país de estádios magníficos e o que se viu uma semana após o fim da Copa? Com as exceções de praxe – um Corinthians aqui, um São Paulo ali -, esses monumentos à modernidade e ao conforto ocupados pela mesma meia dúzia de gatos pingados nas rodadas do Brasileirão, o maior e mais significativo torneio pátrio.

Quer dizer: a imensa rejeição a Dunga, o que ele significa na prática e a ausência de público condigno nos estádios sinalizam para o óbvio: ninguém mais – a não ser uma fração dos apaixonados sem freios somados às tais torcidas uniformizadas – se abala de casa pra ver esse futebolzinho mequetrefe que há anos sem desenrola em campo.

Espie só este exemplo. Bastou o São Paulo apresentar diante do Bahia um jogo dentro das regras da arte, o que lhe valeu até açodadas comparações com a Alemanha, para o Morumbi receber no jogo seguinte um público de quarenta e tantos mil espectadores, que saiu frustradíssimo pelo mau desempenho de sua equipe. Não fosse a possível reestreia de Kak, apostaria que o público do próximo jogo do Tricolor no Morumbi seria o equivalente a um quarto do último sábado.

Ah, mas esse futebol chato e feio que temos por aqui é fruto do êxodo dos nossos maiores talentos. É mermo?, como dizia meu saudoso amigo Dácio Malandro.

Então como explicar a repetição desse mesmo futebol pela elite dos brasileiros que estão lá fora, incensados pelos estrangeiros como craques consumados de primeira linha, na Seleção que deu aquele vexame todo na Copa?

A pista está nas entrelinhas do que disse Dunga na coletiva de terça-feira:

–  Falam aí que a Alemanha ganhou porque se organizou depois do fracasso de 2002. Joguei na Alemanha e posso dizer que eles sempre foram organizados ao extremo, em todos os setores, não só no futebol. Esses centros de treinamento que estão falando aí já existiam há muito tempo.

Bravo, Capia! Afinal, concordamos numa coisa: o êxito agora da Alemanha não foi principalmente fruto de organização, pois isso faz parte da alma germânica desde sempre.

O que mudou lá, desde a virada do século, foi a mentalidade dos cartolas, técnicos e jogadores a respeito de como deve ser jogado o futebol. Tem que passar a ser um espetáculo atraente, despido de medo e de fórmulas alquímicas destinadas a impedir que o adversário jogue.

E foi o que aconteceu: os times passaram a jogar ofensivamente, apostando em jogadores de habilidade mais do que de força. Enfim, pintaram o cinzento de cores vivas no gramado verde. Puseram pra correr os volantões, os três becões, limparam os excessos defensivos, colocando jogadores de habilidade em campo e mudaram o braço da viola. Encheram os estádios de espectadores e nossos olhos de prazer.

Pegue como exemplo esse Schweinsteiger que acaba de levantar a Taça nas nossas fuças. Era um meia ofensivo, que foi recuado para a armação e acabou jogando a Copa como primeiro volante, ao lado de Kroos, outro meia armador e Ozil, idem com batatas. E nós aqui ainda estamos no estágio dos dois ou três volantes que sabem sair jogando, como repetem à exaustão técnicos e comentaristas em geral, jovens e velhos.

Alias, foi quase um consenso nas críticas ao Felipão o fato de ele não ter escalado três volantes para conter a blitz alemã. É a completa inversão de nossos valores. Nós somos os alemães do passado, e eles os brasileiros do presente.

Ora, volante saber sair jogando de trás é o mínimo que se exige de um jogador de futebol profissional. E basta um, se tanto.

Ah, mas e a marcação? Pois sabe o amigo qual foi o jogador brasileiro que mais roubou bola do adversário nesta Copa? Nenhum dos tantos volantes, mas, sim, o meia Oscar. Pra quem gosta de números estatísticos, eis a resposta.

Trata-se de um princípio básico da vida: destruir é mais fácil do que construir.

Enfim, nem daqui mil anos teremos o senso de organização dos alemães, embora possamos e devamos trabalhar nesse sentido, ajustando esse calendário insano, investindo na formação de futuras craques, não simples operários da bola e tudo o mais que reza na cartilha dos reformadores

Mas, o essencial, o básico e urgente é mudar o conceito que o universo do futebol brasileiro tem sobre como armar o espetáculo da bola.

Vamos jogar bola, com inteligência, habilidade e, sobretudo, sem medo de perder. É isso o que o povo quer. O resto é lero-lero dos incompetentes de sempre.

 

 

9 comentários

  1. Entre Neymar e Leandro Damião essa mula cega do Dunga prefere o Leandro Damião.
    Fala sério, esse Dunga é um museu de novidades como disse Cazuza.
    Tem cheiro e ranço de quartel esse ignorante, assim como Marim. O povo tem que se manifestar pois futebol é sim um nicho econômico muito forte e estamos deixando da ganhar muito dinheiro com esse política imbecil da CBF. Sem Neymar nós que gostamos e entendemos de futebol vamos ver o que ou quem na seleção do azedo Dunga ? 11 pé duro como ele foi como jogador, burro ao extremo ? Basta lembrar desse cretino descontrolado como jogador dando cabeçada no Bebeto e como técnico descontrolado mesmo quando o Brasil vencia a Holanda em 2010, passou seu descontrole para o time e deu no que deu. Só leigo e cagão pode gostar de Dunga como técnico, pois ele nesse destempero todo mostra que ele é sim um tremendo medroso, por isso odeia craques. Tem tanto medo de perder que não tem tara de ganhar. Mais um passo para trás no nosso futebol.

  2. Vc não acha que a forma como a Globo dirige nosso futebol, marcando jogos para começar na hora que deveriam estar e praticamente ignorando jogos de times e divisões menores é uma das maiores razões para não termos mais safras de craques?

    Abs

  3. Se a ideia de Dunga é formar um time organizado taticamente, que trabalhe jogadas ensaiadas sem precisar de um craque está certo. Tanto se disse que “o Brasil tem Neymar, Argentina tem Messi e Alemanha tem um time”, essa análise sua é um retrocesso!
    Se no Barcelona Neymar tem que trabalhar para ser titular do time, não tem vaga garantida, por quê não pode ser assim na seleção? Até porque sua ideia de craque está equivocada, o “craque” é aquele que está em um jogo disputado e desequilibra, dando a vitória. Não houve isso nem com a Alemanha tampouco com a Holanda, praticamente dois jogos treinos para esses grandes times, Neymar se livrou de um vexame isso sim, a “eterna promessa” (o “menino” já tem 22 anos), nunca será o melhor jogador do mundo, e vai ter que fazer uma bela temporada num campeonato agora com Suarez, James Rodriguez, além de Messi e Cristiano Ronaldo…

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