Opinião: Ronda e Gabi, uma tenue linha entre o amor e o ódio dos fãs

Após segunda derrota, Ronda Rousey enfrenta seu pior momento na carreira – Divulgação UFC/Josh Hedges

 

“Poucas lágrimas entre

Alguém feliz e triste

Apenas uma fina linha entre

Ser um gênio ou um insano

Quando é que se aprende

A saber para onde nós viramos

Existe uma longa e sinuosa estrada

E o trilho está para explodir

Existe uma fina linha entre o amor e o ódio

Essa ampla divisão que você observa entre o bem e o mal

Existe um ponto cinza entre o branco e o preto

Mas todo mundo tem o direito

De escolher o caminho que seguirá

Nós gostamos de culpar

A sociedade atualmente

Mas quais serão os frutos

De uma nova geração?

Às vezes leva mais do que isso

Para ser bom de coração

Existe mal em alguns de nós

Não importa, nunca irá mudar…”

(Trecho da canção – The Thin Line Between Love and Hate da banda musical inglesa Iron Maiden)

O desfecho final do UFC 207 mostrou uma grande reação entre os fãs da lutadora americana Ronda Rousey, que pela segunda vez consecutiva enfrentou uma devastadora derrota.

Com o sonho de se tornar a maior lutadora de todos os tempos no esporte e se aposentar invicta, Rousey enfrentou uma longa jornada até aqui.

Após conseguir convencer o Presidente do UFC, Dana White que já deixava claro publicamente que o Ultimate nunca teria uma categoria feminina em sua organização, mostrou o quanto a lutadora era capaz de reverter uma situação adversa.

Porém, o esporte evoluiu rapidamente e a atleta americana tem vivido momentos ruins atualmente.

Depois de uma invencibilidade de 12 vitórias em 4 anos de atividade, a musa de 29 anos acabou sucumbindo perante a compatriota Holly Holm.

Ronda perde sua primeira luta patra Holly Holm – Divulgação

Ronda que sempre vivia uma relação de amor e ódio com os fãs, se tornou um verdadeiro alvo de críticas.

Zombada nas redes sociais, a atleta preferiu o silêncio.

(Lutador do Bellator, Michael Page faz vídeo sobre performance de Ronda)

Meme de fãs brasileiros sobre duelo entre Ronda e Amanda Nunes – Reprodução

Não houve entrevistas, as participações em programas de TV diminuiram.

Tudo para não tirar a concentração e dedicação de Ronda para este último combate com a brasileira Amanda Nunes.

Mais ativa, a atual campeã não deu nenhuma chance para Rousey, que acabou novamente sendo tratorizada, desta vez, em apenas 48 segundos de luta.

Aos fãs que Ronda planejava dedicar sua vitória, estes acabaram chorando. Não acreditavam que sua estrela enfrentava novamente um cruel e novo inferno astral.

Seus opositores não deixaram por menos. Todo tipo de zombação, humilhações e falta de respeito perante a mulher que mudou a história do MMA feminino nos Estados Unidos voltaram com força total.

Desta vez, a musa parece ter sentido o golpe.

Os apelos para a aposentadoria aumentaram de forma absurda, tanto que até Amanda Nunes tem opinião parecida, achando que a americana não deveria continuar a lutar.

A questão é porque este tipo de fenômeno presente não somente no MMA mas em vários esportes continua existindo?

Seria uma questão cultural, ou nós, seres humanos como sociedade possuímos este comportamento totalmente inaceitável.

É claro, que não posso agir como “advogado do diabo” e esquecer as atitudes de Ronda que podem ter contribuído para este tipo de comportamento por parte dos fãs.

Para alguns uma mulher arrogante, para outros uma defensora dos direitos da causa feminista.

“Quero agradecer a todos os meus fãs que têm me apoiado, não apenas nos meus melhores momentos, mas também nos mais difíceis. Palavras não podem descrever o quanto esse amor e apoio significam para mim.

Voltar não apenas a lutar, mas também a vencer, era o meu foco total nesse último ano.

Porém, às vezes, mesmo quando você se prepara e dá o máximo de si por querer muito uma coisa, as coisas acabam não saindo como você planejou.

Eu me orgulho em ver o quanto as divisões femininas prosperaram e quero elogiar a todas as outras mulheres que fizeram com que isso se tornasse possível, inclusive a Amanda.

Preciso tirar um tempo de folga para pensar e refletir sobre o futuro. Obrigada por acreditar em mim e por entender tudo isso.” disse Ronda em sua primeira declaração após a derrota para a ESPN americana.

Ronda Rousey recebendo carinho de fã em passagem pelo Brasil – Ana Carolina/Gazeta Press

Temos que reconhecer que Ronda contribuiu demais para o atual estágio que o MMA feminino alcançou, juntamente com a brasileira Cris Cyborg.

Outro exemplo interessante é a relação da lutadora do Rizin Fighting Federation, a gaúcha Gabi Garcia com seus fãs.

Apesar da brasileira ser um verdadeiro exemplo de superação, Garcia enfrenta uma situação parecida.

Sem ter culpa, a lutadora apenas está seguindo ordens da organização e mesmo com uma postura exemplar, vencendo seus combates com todas suas vitórias no primeiro round, enfrenta o ataque feroz de uma pequena parcela do público.

As pessoas por outro lado não enxergam que eu sou uma artista marcial. Que estou aqui para entreter o público.

Isso alguns podem gostar e outros não.

O meu telefone não para. Virou um vírus a minha luta na internet.

Querendo ou não as pessoas estão falando da gente. A minha vida inteira as pessoas me julgaram.

Eu não tenho medo da crítica eu faço o que os outros não tem coragem.” disse Gabi através da imprensa e suas redes sociais com referência aos problemas de bullying que a atleta sempre recebeu em sua carreira.

Gabi Garcia retribui carinho de fãs e incentivadores – Bruno Massami

Porque as pessoas possuem este tipo de postura?

O que cada uma delas ganha ao tentar destruir ou minimizar o sucesso de outras pessoas?

Enquanto fechamos nossos olhos mediante situações perante estas, muitas outras que não possuem essa visibilidade que Ronda e Gabi tem, acabam tendo suas vidas destruídas.

Apenas estou expondo este cenário para que todos nós possamos refletir acerca do que estamos vivendo ao nosso redor.

Talvez, existam casos bem próximos de você leitor, aonde o sofrimento é silencioso mas presente.

Quem dera se o mundo fosse diferente acerca deste problema. Porque o futuro de quem sofre sem expor sua dor pode ser parecido com parte da canção citada neste post.

“Quando uma pessoa vai pro lado errado

Será que ela realmente quer, pertencer?

De querer fazer parte de qualquer jeito

A qual o preço uma vida é perdida?

Eu esperarei

Minha alma vai voar

Então eu viverei para sempre

O coração vai morrer

Minha alma vai voar

E eu viverei para sempre…”

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