Especial – Fedor Emelianenko vs Mirko Crocop, a maior luta da história do MMA

2005 entrou para a história do MMA com um duelo em especial - Divulgação
2005 entrou para a história do MMA com um duelo em especial – Divulgação

 

Hoje, o blog vai relembrar uma luta que ficou marcada na história do esporte.

A data era 28 de agosto de 2005, o Saitama Super Arena no Japão recebia as finais do GP de meio pesados porém uma luta fazia história na data.

O croata Mirko “Crocop” Filipovic desafiava o russo Fedor Emelianenko pelo cinturão dos pesados em uma luta muito esperada pelos fãs na época.

Os quase 70 mil espectadores que invadiram a arena japonesa vivenciaram uma verdadeira batalha no ringue.

O clima era de verdadeira tensão. Principalmente quando a luta foi anunciada, três meses antes da data do combate.

Ídolo japonês. Crocop por diversas vezes teve oportunidades para estar próximo do título, por ser um lutador mais famoso no país, devido sua carreira no Kickboxing atuando no famoso evento K-1.

Com um estilo agressivo, nocauteador com seus chutes altos potentes e socos que já derrubaram diversos oponentes, Mirko era o preferido da torcida contra Fedor, que até nos trailers promocionais da organização era apresentado como o frio e quase impossível de ser vencido.

O russo acabou sendo comparado com o conhecido Ivan Drago, vilão da União Soviética, nos filmes de Rocky Balboa.

Aliado ao drama familiar de Crocop, que perdeu seu pai, Zarko Filipovic durante os conflitos militares em seu país no ano de 1994, o lutador acabou se tornando policial, membro do parlamento de seu país antes de se tornar um atleta profissional e ganhou o apelido de “O Exterminador” pela imprensa japonesa.

O clima se intensificou quando o croata venceu de forma devastadoras dois lutadores próximos de Emelianenko: seu parceiro de treinos, Ibragim e seu irmão, Alexander.

Em um vídeo de bastidores, Fedor foi filmado e mostrou seu único momento de irritação, nunca visto antes, já que o lutador sempre apresentou uma postura educada.

Furioso ao ver seu irmão sendo nocauteado, o russo que não acreditava no que via usou isto de motivação para o combate que entraria para a história.

Um dos segredos do russo na luta, foi apostar na ajuda da juventude de um lutador que hoje é conhecido pelo público: O holandês Tyrone Spong.

Na época, o ex campeão do GLORY tinha apenas 20 anos de idade e em sigilo, treinou com Fedor durante a preparação do russo em seu país.

Convidado pelo blog, o treinador de Wrestling (Luta Olímpica), Rodrigo Artilheiro relembrou o convite recebido pelo croata que partiu de um conhecido nome do público brasileiro: o atual campeão peso pesado do UFC, Fabricio Werdum.

Heptacampeão brasileiro da modalidade, Medalha de Bronze no Panamericano em 2008 e campeão do Troféu Brasil de Judô e da categoria Master do ADCC, Artilheiro se mostrou muito grato pela oportunidade.

“No ano de 2005, eu fui convidado pelo Mirko e indicado pelo Fabricio (Werdum) para ajudar ele a se preparar para a luta com o Fedor lá em Zagreb.

Foi uma das maiores experiências que eu tive no esporte e na minha vida. A Croácia é um país lindo.

O Crocop era top 2 do mundo. Ele e o Fedor eram os dois melhores lutadores do mundo e eu junto do Werdum, tivemos uma experiência muito boa.

Foi lá que eu fiz minha primeira luta de Vale Tudo. Treinei com todos os croatas, com o Crocop e o Fabricio.

O Mirko é um cara que dispensa comentários. Me ajudou muito. Eu também ajudei ele na preparação.

A gente treinava lá na montanha. Todos os dias a gente treinava e eu me lembro que a gente ia de bicicleta.

Ele me deu uma e nós subíamos de dia e a noite para treinar.

Foi todo mundo junto para o PRIDE  na luta contra o Fedor e foi uma coisa inesquecível. Quase 90 mil pesssoas lá naquela Arena.

Foi uma batalha. E eu tenho muita saudade da Croácia e o do povo croata. Tenho certeza que um dia vou voltar para lá.” relembrou Artilheiro.

Rodrigo Artilheiro, um dos brasileiros que ajudou Crocop na luta mais importante de sua carreira - Arquivo Pessoal
Rodrigo Artilheiro, um dos brasileiros que ajudou Crocop na luta mais importante de sua carreira – Arquivo Pessoal

Após duas lutas intensas, entre os brasileiros Ricardo Arona e Wanderlei Silva além de Maurício Shogun contra Alistair Overeem, a arena aguardava a chegada dos lutadores.

A luta…

Em um momento inusitado, Crocop chegou a receber dicas do ex lutador do UFC, o holandês Bas Rutten sobre o estilo de luta do russo.

O sorriso de Fedor Emelianenko, após a vitória sobre Mirko Crocop - Por Marcelo Alonso/PVT/Sherdog - (Imagem cedida com autorização do mesmo para esta publicação)
O sorriso de Fedor Emelianenko, após a vitória sobre Mirko Crocop – Por Marcelo Alonso/PVT/Sherdog – (Imagem cedida com autorização do mesmo para esta publicação)

Aceitando um pedido especial do blog, o jornalista Marcelo Alonso, que representa o site Portal do Vale Tudo, além de ser comentarista do programa Combate News e escrever para o site americano Sherdog, deu seu testemunho sobre seus sentimentos acerca da luta.

Marcelo que esteve presente no Saitama Super Arena em 2005, viu de perto a batalha que para ele foi o maior duelo de pesos pesados que já viu.

“Sem dúvida alguma um dos melhores eventos que já tive a oportunidade de cobrir.

Foi um privilégio enorme assistir da beira do ringue na mesma noite Wanderlei x Arona; Shogun x Overeem, Arona x Shogun e de quebra: Werdum finalizando Zentsov; Yoshida finalizando Tank Abbott e Fedor vencendo Cro Cop no maior duelo de pesados que já vi.

Vale lembrar que o Cro Cop vinha de uma fase espetacular (7 vitórias consecutivas) nocautes impressionantes vindo com muita moral pra cima do campeão dos pesados.

Seria a primeira vez que o russo colocaria seu cinturão em jogo contra um striker top do K-1 que defendia bem quedas.

Por conta disso, muitos colegas da mídia apontavam o croata como favorito.

O que mais me impressionou nesta luta foi a postura do Fedor que decidiu aceitar a luta no território do oponente, vencendo Cro Cop em pé e no chão.

Exatamente por escolher o caminho mais difícil, Fedor saiu da luta bastante machucado (com o rosto bem pior que o do Mirko), mas mostrou ao mundo mais uma vez ser um casca-grossa do mais alto quilate e o maior peso pesado da história do esporte.” analisou Alonso.

Conhecido por suas mãos pesadas e seu potente jogo de solo, castigando seus oponentes com seu Sambô, o russo mostrou ao mundo algo que o mesmo nunca tinha visto.

Andando para trás e com uma postura defensiva, os fãs de Crocop ficavam estarrecidos ao ver o lutador ser dominado na arte que domina.

O único momento de brilho do croata foi um poderoso jab que faz Fedor balançar mas outra vez mostrar porque o atleta era o maior peso pesado do mundo na época.

“Não sei o que aconteceu comigo. Estava bem nos 10 primeiros minutos. Mas senti o ritmo no segundo round.” lamentava Crocop em conversa com seu agente após a luta.

Depois de três intensos rounds, Fedor conquistava por decisão uma de suas maiores vitórias de sua carreira.

O clima após a luta era de celebração e emoção no lado russo.

Sua esposa Oksana e uma amiga estavam emocionadas após o combate e anunciavam para familiares através de telefonema que Fedor havia vencido.

Por outro lado, a frustração de Crocop era evidente com a derrota em um combate que Mirko desejou tanto durante muitos anos.

Até hoje, muitos se perguntam como Fedor conseguiu vencer este combate.

Talvez aqui, eu não consiga explanar totalmente esta resposta mas em uma conversa que tive com um de seus treinadores, ouvi alguns motivos que podem indicar a resposta.

“Fedor é um atleta diferente. Ele reage de forma surpreendente sempre e quando você menos pensa, ele vai e faz aquilo que você não esperava naquele momento.

Quando pensamos que ele está exausto, ele insiste em tentar mais uma vez. E não vai nos deixar em paz caso não esteja satisfeito com seu desempenho.

Uma vez, ele me acordou as 5 e meia da manhã dizendo: Vamos treinar? 

O que eu poderia responder para ele? Que era muito cedo para isso? (risos)

Acabei acordando e em meio ao frio intenso do inverno japonês, nós treinamos, fizemos corrida e todas estas coisas que vocês conhecem até ele (Fedor) se sentir satisfeito.

Ele gosta de ser testado ao seu limite. E superar suas limitações.

É por isso que vocês viram por tantos anos, Fedor se superar e vencer caras muito maiores e mais fortes do que ele.

Sou um grande admirador dele e é uma honra ajudar sempre que posso.” disse o treinador que pediu para não ser identificado.

Rumos e futuros distintos…

As carreiras de ambos os lutadores tiveram rumos diferentes após esta luta.

Crocop conseguiu dar a volta por cima e se tornou campeão do GP peso absoluto do PRIDE em 2006, antes do evento ser extinto no ano seguinte.

Com o fim do evento japonês, Mirko migrou para o UFC mas uma série de derrotas e um nocaute devastador sofrido para o brasileiro Gabriel Napão, fez Mirko ficar afastado de grandes combates até o ano passado, onde conseguiu vingar sua derrota para o mesmo atleta.

Porém, o lutador acabou sendo pego no exame antidoping e acabou anunciando sua aposentadoria do esporte.

Antes disto, Crocop também foi vencedor do GP de pesados do K-1 em 2013, sendo um dos poucos atletas que conquistaram cinturões de grande importância no esporte.

Crocop conquistou cinturão do K-1 em 2013 - Divulgação K-1
Crocop conquistou cinturão do K-1 em 2013 – Divulgação K-1

Fedor fez outro caminho.

Recusando assinar com o UFC, o lutador fez combates em três organizações: O evento russo M-1 e os extintos eventos Affliction e Strikeforce.

Perdendo para dois brasileiros (Fabrício Werdum e Antônio Pezão) e sofrendo seu primeiro nocaute da carreira contra o americano Dan Henderson, Fedor se aposentou em 2012 ao nocautear o brasileiro Pedro Rizzo.

No fim de 2015, o russo após três anos de aposentadoria anunciou a volta ao esporte ao 39 anos de idade e venceu o indiano Jaideep Singh no Rizin Fighting Federation.

Fedor voltou a lutar no fim do ano passado após 3 anos de aposentadoria - Bruno Massami
Fedor voltou a lutar no fim do ano passado após 3 anos de aposentadoria – Bruno Massami

 

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