80 anos atrás: é proibido jogar

O ano era 1941.

Neste dia, um decreto-lei mudava o destino de centenas de mulheres brasileiras. Elas não poderiam mais jogar bola ou praticar quaisquer outros “esportes incompatíveis com as condições de sua natureza”.

Parece exagero dizer assim, mas uma de nós dentro das quatro linhas poderia, sim, virar caso de polícia.

Era Ditadura do estado novo e a preocupação, alegavam, era com as possíveis consequências provocadas por certas modalidades ao corpo feminino. Então presidente do Brasil, Getúlio Vargas baixou o Decreto-Lei 3.199, que proibia as mulheres de jogarem futebol. Naquele ano, o Jornal A Gazeta entrevistou dr. Leite de Castro, segundo a publicação, o primeiro médico do País que se dedicou especialmente à medicina esportiva. Para ele, o esporte traria para mulheres “defeitos e vícios”, além de “alterações gerais para a própria fisiologia”, comprometendo seriamente “os órgãos da reprodução”.

Como escreveu minha colega Olga Bagatini, a maternidade era considerada então a principal função social da mulher.

Jornal A Gazeta, de 1941 (Foto: Acervo)

Foram mais de 40 anos até que as mulheres pudessem voltar ao campo sem correrem o risco de estarem cometendo um crime.

Uma vez considerada atração circense, antes mesmo da proibição, o esporte sofre, até hoje, as mazelas desse passado. Seja na disparidade dos salários, na falta da profissionalização da modalidade, e, porque não, na falta de visibilidade.

Aqui, estamos falando de um problema estrutural. Passa pelos governantes (como passou por 40 anos), pelas instituições responsáveis por fazer a modalidade acontecer, como a CBF e as federações e, também, por mim e por você.

Você mesmo, caro leitor.

Provavelmente, em algum momento, já ouviu -ou já falou – algumas dessas frases: “futebol feminino é chato”, “elas não sabem jogar”, “o jogo é feio”,“não é pra mulher”, “lugar de mulher é na cozinha”. E isso falado aqui, na terra do futebol. Afinal, é assim que somos conhecidos, né?

Não vou passar pano para quem disse essas frases. Elas estão erradas e ponto final. Mas podemos melhorar daqui pra frente, não podemos?

Se as cotas de pagamentos foram igualadas no último ano, se, hoje, temos mulheres no comando da equipe feminina, e batemos recordes de audiência na última Copa, é possível ser otimista. A coisa está melhorando. E a tendência é evoluir cada dia mais.

Para ajudar nesse processo, as pequenas coisas também valem e são importantes. Seguir o time feminino da sua equipe de coração nas redes sociais, assistir aos jogos transmitidos, ir ao estádio apoiar as jogadoras (claro, quando for liberado, após a pandemia). Dá pra ser ainda mais prático: apoiar as mulheres que estão ao seu lado. O futuro é a base.

Faltam apenas 100 dias para os Jogos Olímpicos de Tóquio e centenas de mulheres estarão defendendo o verde e amarelo. Não esqueça de torcer por cada uma delas, de casa.

Vamos juntos e juntas?

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