Timão no “pão e manteiga” e os outros só no caviar…

Foto: Nelson ALMEIDA/AFP

Tinha um amigo de infância apelidado de Carlão Pé. Era um afrodescendente curioso demais. A gente fazia parte do mesmo time. Jogássemos onde fosse (rua de paralelepípedo, areia, terra ou campo de grama) o garoto corria descalço. O adversário de tênis ou chuteira e o Negão levava todas na dividida. Um fenômeno. O Pezão ou Pelé (era muito habilidoso também e torcia para o Santos) tinha uma mania. Era pobre, morava numa Vila caindo aos pedaços da rua Miranda Azevedo, na Vila Pompéia, São Paulo. Comprava um pão com manteiga e uma tubaina no “sujinho” da esquina, mas devorava o “banquete” na padaria do português, no outro quarteirão. Um dia, curioso, questionei: “Carlão, não me leve a mal. Você compra lá para comer aqui?”. Humilde me respondeu: “É que aqui tem mais comida gostosa do que ali. Como aqui, de olho ali”, e riu saudável, sentado na calçada ao cair da tarde de um dia perdido de 1970. E ai, então, lembrei do Corinthians.

A atual diretoria está em busca de um centroavante de nome, “matador” ( o ideal seria Luizito Soares, ainda no Barcelona). Sonda Tardelli. Vai atrás de Boselli. E o técnico Fábio Carille terá de se virar com Gustagol e olhe lá. Porque no meio do ano abre a tal “Janela para Europa” e não tem para ninguém. O Mercado Mundial da Bola é cruel. Europeus, chineses, japoneses, tailandeses, norte-americanos, mexicanos vêm aqui e fazem a festa. Levam tudo baratinho para depois venderem pelo dobro do preço lá fora. Sinceramente, estou cansado de ver o mesmo filme passando sem cortes nos últimos 25 anos.

Temos duas alternativas. Ou fazemos como o Carlão Pé, nos viramos nos 30 e rimos na cara da miséria; ou algum desses deputados federais eleitos democraticamente, façam jus ao cargo e tomem alguma providência. Digo, elaborem uma Lei para pelo menos segurar os garotos até 24 anos aqui no Brasil. Da CBF já desisti. Os caras são enrolados demais. “Mudam as moscas e o cocô é o mesmo”, diria minha tia Leucadia, irmã da minha avó Amélia. Desculpem, ela era meio desbocada. Tipo daquelas que falava na cara. Se estivesse viva, gostaria de colocá-la frente a frente com o presidente Andrés Sanchez, que iria levar uma bronca daquelas, embora tenho certeza a conversa acabaria em vodka (era polonesa e gostava de se “esquentar”, fizesse chuva, sol, calor ou frio).

Aqui critico sem má fé. Quero o bem do Corinthians, clube do meu coração, com finanças em frangalhos, sem Plano B. Chegaram a IBM e a Poti. Pouco ainda para o tamanho da Fiel. Hoje a torcida atinge fácil 36 milhões. É gente para caramba. Respeito é bom e todo corintiano gosta.

E tenho dito!