Futebol não é arte marcial – a violência está descaracterizando o esporte-rei.

Neymar sofreu uma grave lesão no joelho (Foto: Pablo Porciuncula/AFP)

As entradas (carrinhos), as pisadas nos pés com as travas das chuteiras e os golpes com mãos e braços nos rostos dos jogadores estão alterando a essência do futebol e o tornando violento.

Temos indagado, em muitas de nossas colunas e comentários por vídeo, as razões pelas quais os jogadores de futebol, sobretudo os profissionais, praticam as indicadas ações violentas.

Seria reflexo de nossa atual sociedade, em que a violência passou a ser lugar comum e não mais sensibiliza o ser humano? Seria da própria natureza do esporte, em que os contatos físicos não próprios, ou seria uma clara deformação da essência do jogo, em razão da valorização do aspecto físico em detrimento do aspecto técnico? Seria afinal, para não nos alongarmos, o desejo de vencer a qualquer custo, ainda que em detrimento da integridade física dos jogadores, quiçá por conta de orientações desvirtuadas do real sentido do esporte e da vida? Seriam tais ações, ainda, estimuladas por regras e arbitragens lenientes?

Afora o aspecto relacionado com a atual realidade de nossa sociedade, que é um problema mais amplo, pois essencialmente de Estado, entendemos que todos os profissionais do futebol estão errando e errando feio, tanto ao editarem as regras do jogo com flacidez; como ao orientarem os jogadores ainda em formação de modo desvirtuado; bem assim por conta de arbitragens permissivas, seja por consequência de orientações inconsistentes e/ou de árbitros inseguros.

De fato, pois não se pode conceber que um profissional de futebol, ao perceber que não vai ganhar a posse da bola, pratique ação clara para atingir o oponente, colocando sua integridade física em risco. Esquecem-se todos que, tornadas como se tornaram comuns as ações violentas no futebol, o agressor de hoje, com absoluta certeza, será o agredido de amanhã – “Hodie mihi cras tibe”. Hoje o lesionado sou eu, amanhã será você.

No particular das entradas (carrinhos), os jogadores precisam entender que a dinâmica de seus corpos corresponde à de um carro sem freio, ladeira abaixo. Tanto é assim que, mesmo quando a bola é jogada antes e o contato é produzido depois, uma falta pode se caracterizar.

Desse modo, como é da essência da regra, que nem se refere ao fato de a bola ser ou não jogada, as entradas só podem ser praticadas fora da direção dos adversários (após ou antes de seus corpos).

O que se tem visto ordinariamente, todavia, é exatamente o oposto: Jogadores sendo atingidos nas pernas e nos pés, com claro risco de lesão, porque as entradas são praticadas na direção de seus corpos.

De outro lado, também é comum os jogadores pisarem com as travas das chuteiras nos pés de seus adversários, em clara ação de temeridade e deliberada, pois todos sabem quando podem chegar atrasados nas jogadas.

Mas a pior de todas essas atitudes condenáveis são os golpes na cabeça e nos rostos dos adversários, em clara ação agressiva, sobretudo, o que é muito comum, quando o jogador atingido já está vencido e atrás do agressor, pois, nestes casos, os impulsos dos braços ou mãos são para trás.

Tudo sem nos esquecermos do efeito colateral que essas ações vêm provocando, pois muitos jogadores, justamente por saberem que esses golpes são comuns, estão simulando que teriam sido atingidos em seus rostos, quando o contato nem ocorreu ou se deu em seu tórax. Ações negativas de parte a parte!

Diante desse lamentável quadro, temos que as entidades esportivas, principalmente a IFAB-International Football Association Board, que é o órgão responsável pelas regras, assim como e FIFA, precisam adotar medidas urgentes e firmes para aperfeiçoar as regras, a exemplo de determinar expulsão direta de todo jogador que, claramente, deixar de disputar a bola para atingir seu adversário com os pés; golpear o rosto de seu adversário; pisar deliberadamente no pé do oponente.

Mas não é só. De seu turno e mais urgentemente ainda, o certo é que as entidades organizadoras das competições e suas respectivas comissões de arbitragem precisam adotar medidas igualmente firmes e punitivas contra os jogadores que praticam tais ações, em lugar das inaceitáveis desculpas e “orientações” que hoje grassam para evitar expulsões, a exemplo de: “recolheu a perna”; “o contato não foi pleno”; “tocou no rosto, mas não foi com o cotovelo, foi com parte branda do braço”; “foi com o cotovelo mas não houve gatilho (impulso); etc. etc.

Concluímos, pois, e com base na regra, que o certo será: praticada uma ação com risco de lesão para o adversário, seja em razão da força; seja em razão

da velocidade; e, principalmente, quando deliberada e/ou fora da direção ou do contexto da jogada, que um cartão vermelho direto seja aplicado.

Também é necessário que as reclamações acintosas, as rodinhas, as invasões de campo por jogadores reservas e membros de comissões técnicas sejam punidas com expulsões, pois nosso futebol está mais parecendo com jogo de várzea do que com um esporte profissional.

Precisamos de novas diretrizes e de arbitragens mais fortes. Uma punição hoje, apesar de poder gerar reclamação, será a base para evitar expulsões e mais expulsões futuras, além do que e principalmente, lesões e mais lesões de jogadores, desfalcando suas equipes e empobrecendo os espetáculos.

Leis fortes previnem infrações e estabelecem a ordem.

Ao leitor a palavra final.

1 comentários

  1. Ótima abordagem!
    É imperiosa a necessidade de o IFAB rever os conceitos atuais da regra no futebol. As cotoveladas, cada vez mais repetidas em campo, precisa ter um fim. Por exemplo, jogador atingido e expulso só voltar ao campo quando a sua vítima também voltar. Só isso será capaz de banir esse recurso bisonho que é usar o cotovelo deliberadamente para atingir um adversário. Essa infração criminosa viola a ética de forma lamentável entre colegas de profissão

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