
O folclórico e saudoso João Avelino contava que certa vez foi visitar o amigo Cilinho, então técnico da Ponte, famoso por revelar jovens valores pelos times que passou. Encontrou Cilinho na rua, em frente ao Majestoso, cercado por um bando de garotos, que, um por um, eram obrigados a dar uma volta no poste. Intrigado, João quis saber o que Cilinho estava fazendo ali.
-Peneira, João, peneira.
-Como assim?
-Só pelo gingado do menino dá pra saber se é ou não do ramo. Desse jeito é mais rápido.
O nosso simpático El Patón, por certo, não possui esse dom sensorial do Cilinho daqueles tempos. Aliás, tenho minhas sérias dúvidas sobre sua capacidade de percepção sequer sobre quem deve jogar e onde no time do São Paulo, que perdeu nesta tarde-noite de sábado para a Ponte, hoje sob o comando do técnico Galo.
Por exemplo: o melhor momento da carreira de Wesley foi jogando como volante, ao lado de Arouca, naquele Santos maravilhoso de Ganso e Neymar, do primeiro semestre de 2010. Pois, Patón o colocou em campo pela direita, como uma espécie de ponta, o que fechou qualquer possibilidade de o São Paulo atacar por las puntas, como recomendava seu ilustre patrício Filpo Nuñes.
Mesmo porque, pela esquerda, logo perdeu Michel Bastos, machucado pelas vaias incessantes de sua própria torcida e por algum acidente muscular. Era a chance de colocar Rogério por ali, onde o incisivo Neymar do Nordeste, embora destro, se sente à vontade, já que o Tricolor passou o jogo todo tentando inutilmente tocar a bola pelo meio congestionado.
Mas, não: preferiu chamar Carlinhos, que, com Mena, formou uma ala esquerda que não ia ao fundo nem a pau.
Ah, mas agora, chegou a vez de Rogério, já no segundo tempo. E Rogério entra. Na direita, no lugar do volante Tiago Mendes, passando, enfim, Wesley para o meio de campo, seu lugar. Por pouco tempo, pois, embora Wesley fosse o mais ativo do setor, é sacado para a entrada do centroavante Kardec, ainda que Calleri não acertasse uma única jogada ao longo de toda a partida.
Bem, diante de tantos equívocos, era inevitável o jogo terminar com 1 a 0 para a Ponte, gol de Reinaldo, mais um daqueles que a torcida expulsou do Morumbi, num jogo em que a única chance real do Tricolor foi oferecida pela poça d’água, que deixou Ganso, cara a cara com o goleiro – bola no travessão, pra variar.
Pois é, pelo gingado é que se percebe o craque. E, pela percepção, o técnico.