
O espetáculo da subversão começou antes mesmo de a bola rolar, quando cem mil bascos e catalães, que há séculos lutam por suas respectivas independências, em pleno Camp Nou, vaiaram do início ao fim o hino da Espanha, nas fuças do rei Filipe VI, envolvido em escândalos recentes, diga-se.
Os bascos, especialmente, são um povo que não se sabe de onde veio, nem a que etnia, dentre as catalogadas pelos antropólogas, descende. Seu idioma inextrincável não se ajusta a nenhuma das linhagens linguísticas conhecidas. É como se os bascos desembarcassem de uma nave estelar, de repente, em algum momento da história.
Mas, quem parece ter descido das estrelas é um prosaico garoto argentino, nem basco, embora de alma catalã por adoção: Lionel Messi,
Imagem, aliás, que remete ao que sempre disse de Pelé seu velho parceiro Pepe, o José Macia, para quem o Crioulo não contava, pois era um ET, veio de outro planeta.
O fato é que Messi, bola rolando, tratou de subverter a ordem estabelecida pelos inimigos da arte e amantes do tecnicismo e truculência no futebol.
Pois não é que o Bilbao se reuniu, estudou cada palmo da ação de Messi, e resolveu escalar Balenziaga (não confundir com o refinado estilista do século passado, já que de estilista na costura com a bola não lhe cabe uma linha esgarçada sequer) como segunda pele do genial gringo?
Deixcomigo, confidenciou Messi a seus botões. E, na primeira bola, fez um trapo do marcador. Na segunda, deu-lhe dois dribles desconcertantes, deixou no caminho, ziguezagueando, bola colada àquela canhota mágica, mais três outros adversários, e tocou no cantinho do goleiro. Uma obra-prima de imaginação e execução, síntese de seu imenso talento.
Subversão pura de tudo que aí está estabelecido pelos pragmáticos de plantão. Arte, em seus estado mais primitivo e avançado, ao mesmo tempo. Prova de que há vida inteligente, pelo menos, neste planeta azul que se acinzenta a cada dia.
Mas, o Barça não é só Messi, embora orbite ao seu redor o tempo todo. É também o jogo coletivo, o tique-taque hipnótico, e os demais astros que cintilam à sombra do argentino incomparável. Como, por exemplo, Luisito Suárez e Neymar, arco e flecha na jogada do segundo gol, concluído pelo brasileiro.
O Barça, que acaba de levantar sua segunda taça de ouro nesta temporada, é o Barça, um time que, se não veio de outro planeta, há tempos paira acima do lugar-comum, num céu cheio de estrelas.