
Pato disse que não aceita mais ser reserva no São Paulo. Não sei em que contexto, nem em que tom deu essa declaração à rádio Transamérica, se não me engano. O fato é que a declaração se espalhou e aí caímos naquela velha anedota do telegrama “Pai, manda dinheiro”.
Conhece? Não? É o seguinte: o rapaz, que estudava em outra cidade, vivia sendo repreendido pelo pai por ser perdulário no uso excessivo de palavras em seus telegramas. Desta vez, reduzira ao máximo o pedido, e o velho ficou indignado, interpretando o texto como uma imposição do garoto abusado – “Pai, manda dinheiro”. O que tá pensando esse fedelho, me dando ordens?
Quer dizer: depende de como você interprete a declaração de Pato, habitualmente um rapaz cordato e disciplinado: se um um gesto impositivo, ou apenas a promessa de manter-se no esforço de conquistar definitivamente a posição de titular.
O fato é que Pato merece – e não é de hoje – ser titular do São Paulo. Afinal, se não chegou a ser aquele craque que todos esperávamos, depois do início fulminante no Inter, na Seleção e no Milan, mesmo pagando mais banco do que jogando, tem sido o principal artilheiro da equipe. E, mais: por ser um atacante veloz e de muita movimentação, oferece a Ganso mais opções de passe, o que aumenta em muito o poder de fogo do seu time.
Velocidade e movimentação, esse parece ser o segredo da recente recuperação do Tricolor. Velocidade e movimentação com Ganso? – questionará o amigo mais literal.
A propósito, ainda ontem, na Sportv, Carlos Alberto Torres, o Capita do Tri, craque incomparável em seu tempo, exaltava a capacidade singular de Ganso em fazer a bola correr, tocando-a de primeira. Coisa rara no nosso futebol atual – aquele meia que, apesar de lento nas passadas, dá velocidade à bola. Mas, pra que isso funcione é preciso ter ao seu redor jogadores rápidos e de muita movimentação. E aqui cabe outra frase lapidar, de Gentil Cardoso, o Moço Preto:
– Quem pede tem preferência; quem se desloca recebe.
Por tudo isso, visualizo um São Paulo, com o atual elenco, num formato que nem Milton Cruz, nem qualquer outro técnico brasileiro – a não ser, talvez, Levir Culpi ou Marcelo Oliveira – ousaria: do meio de campo pra frente, Souza, Wesley, Michel Bastos, Ganso, Centurión e Pato.
O que acha o amigo?