McGregor – O preço cruel da derrota

O dilema entre o topo e as críticas – Divulgação/Jeff Bottari

Viver no limite entre os aplausos e cobranças.

O fenômeno irlandês que invadiu o UFC nos últimos anos conhece seu mais duro momento no esporte.

Dono de um carisma único, atitude arrojada, declarações fortes e uma vida cercada entre ao amor e ódio dos fãs.

É uma realidade. Ou você ama ou odeia Conor McGregor.

Rivalidade de McGregor e Aldo, o primeiro grande momento do irlandês no UFC – Ana Carolina Carvalho/Gazeta Press

O público americano aos poucos foi pegando gosto pelo estilo de Conor que até a luta contra José Aldo, era cercado de dúvidas e incertezas que evaporaram em apenas 13 segundos depois de uma das lutas mais promovidas pelo UFC a história com direito a várias encaradas e provocações incluindo um momento marcante em Dublin aonde Conor chegou a furtar o cinturão de Aldo em uma das coletivas de imprensa do Ultimate, levando os fãs locais a loucura.

 

Um nocaute que chocou o mundo e que elevou o status do garoto irlandês a estrela do MMA.

O triunfo acelerou a confiança de McGregor e sua ambição em fazer história e também seu projeto em ser conhecido, ser único.

“Nós não estamos aqui

para fazer parte.

Nós viemos pegar tudo.”

 

Uma das declarações mais épicas do lutador que conseguiu mobilizar seu país, se tornado uma dos principais esportistas europeus em atividade.

McGregor e Cristiano Ronaldo se encaram em academia – Reprodução Instagram

Após uma novela com final feliz depois de um pequeno revés contra o popular lutador americano Nate Diaz, responsável pela primeira derrota por finalização, McGregor superou Diaz e teve seu maior momento no UFC ao se tornar o primeiro campeão de duas categorias simultaneamente ao nocautear Eddie Alvarez e levar para casa o cinturão peso leve.

McGregor foi o primeiro campeão de duas categorias ao mesmo tempo no UFC – Divulgação/Jeff Bottari

No topo do mundo, Conor queria mais. Queria ser conhecido mundialmente. E usou seu sucesso no UFC para alavancar uma luta totalmente improvável e que para muitos, um feito impossível de se alcançar: vencer a lenda do boxe, o invicto e polêmico americano Floyd Mayweather Jr.

Estrela do UFC, McGregor encarou estrela do boxe – Divulgação

Sem nunca ter feito uma luta de boxe profissional na vida, usando seu poder promocional para alavancar as vendas do combate, Conor adotou a mesma postura vencedora no UFC para tentar intimidar Mayweather que ao longo de sua experiência, conseguiu superar McGregor em 10 rounds.

Neste caso, a derrota acabou sendo vista de forma positiva já que para um “novato”, conseguir ir tão longe contra o maior nome do boxe no esporte recente não é um feito tão negativo.

Estreante no boxe, McGregor surpreendeu críticos com luta contra Mayweather – Divulgação

O início do fim?

Com a popularidade em alta e com uma visibilidade que nunca um lutador de MMA tinha alcançado antes no mundo, McGregor se tornou uma estrela global.

O UFC aproveitou a oportunidade para usar este fato ao realizar uma da maiores lutas da história do MMA e uma rivalidade que teve momentos dramáticos entre McGregor e o russo Khabib Nurmagomedov.

As coisas chegaram a sair do controle, com Conor e sua equipe atacando o ônibus dos lutadores do UFC em uma luta de Nurmagomedov contra o americano Al Iaquinta.

Na luta, McGregor acabou pela segunda vez, provando o gosto amargo do revés sendo finalizado por seu maior rival no MMA até então.

Nurmagomedov finaliza McGregor – Divulgação

Milionário e bem sucedido apesar da derrota, o futuro do irlandês chegou a ser colocado em xeque até pelo Presidente do UFC, que chegou a dar declarações de que Conor não voltaria a lutar mais.

Só que em 2020, o lutador resolveu voltar e em 46 segundos atropelou Donald Cerrone, o que trouxe aos fãs uma esperança de ver o ídolo voltar ao topo.

A pandemia que atingiu a todos nós em 2020 também impediu Conor de lutar mais no ano passado e apenas no último fim de semana, o irlandês retornou ao octógono contra um velho conhecido, o americano Dustin Poirier, que já havia sido derrotado por McGregor por nocaute em 2014.

Porém, 7 anos se passaram e ambos lutadores evoluíram.

E no segundo encontro e inacreditável aconteceu.

Poirier em uma performance impressionante, fez o que nenhum lutador havia feito antes no octógono: nocautear McGregor impiedosamente.

Dustin Poirier brilha com nocaute sobre estrela irlandesa do UFC – Divulgação/Jeff Bottari

As consequências do feito de Poirier colocam Conor em uma posição aonde o atleta nunca esteve no UFC, a dúvida, desconfiança e cobrança.

No esporte sabemos que perder é uma situação possível de acontecer. Porém em nenhum esporte, uma derrota por nocaute pode ser tão devastadora como no MMA.

Por ser um esporte que apesar de todo o trabalho de bastidores, por sua equipe, o lutador acaba chamando para si a responsabilidade do resultado, já que diferente do futebol, um grande trabalho pode não fazer efeito se a performance individual não acabar se materializando.

Vencer ou Vencer…

Uma vez ouvi de uma pessoa a seguinte frase:

“As pessoas não gostam de esporte, elas gostam de campeões, de vencedores.” 

Esta relação de amor e ódio entre fãs e esportistas muitas vezes pode ser injusta.

É preciso dar tempo para que o trabalho possa trazer frutos e a intensa cobrança pelo resultado pode jogar fora todo potencial que a pessoa pode produzir.

Diferente do MMA, apesar de ser um esporte coletivo, treinadores são alvos de cobrança dos fãs sendo que eles não conseguem dentro de campo determinar um resultado.

Na luta, o treinador na maioria das oportunidades é poupado de críticas mas os atletas são duramente criticados quando o resultado não vem.

Mesmo sendo esportes diferentes, o comportamento dos fãs principalmente acerca da derrota são bem similares.

Eles não procuram enxergar todos os fatores que possam ser responsáveis pelo resultado, apenas realizam uma “caça as bruxas” para encontrar um culpado da má situação, seja do clube ou do atleta.

Treinador do São Paulo, Fernando Diniz sofre pressão de torcida, no MMA, treinadores atuam mais nos bastidores – Divulgação/Rubens Chiri

Na luta, existe o agravante aonde o nocaute intensifica e potencializa esta cobrança.

Ser finalizado, como no caso de McGregor versus Diaz pode ser ignorado mas este revés para Poirier pode ter consequências duras para o irlandês.

Como os lutadores não possuem salário, cada luta é praticamente considerada uma final de campeonato ou um momento decisivo para a carreira do mesmo.

Podemos usar exemplos como Anderson Silva e José Aldo que viveram má fases recentemente e a forma como os fãs enxergam os atletas, mudou de patamar de ” ele é o cara” para “ele já era”.

Este tipo de postura dos torcedores sem valorizar tudo que o profissional realizou na sua carreira, os bons momentos de glória apenas se alimentando de resultados do momento acaba muitas vezes sendo injusto, principalmente em uma das profissões mais duras como a de lutador.

Ídolo no São Paulo como atleta, Rogério Ceni busca sucesso em nova carreira como treinador, no MMA, lutadores perdem o protagonismo quando se tornam treinadores – Divulgação/Alexandre Vidal/CRF

No futebol, o torcedor pode relevar uma derrota se na visão dele, o time teve “raça e determinação” mesmo se o resultado negativo porém o mesmo não perdoa se a performance é considerada ruim ou humilhante em casos de goleadas por exemplo.

Momentos ruins acontecem em todos os lugares. O desafio é encontrar o equilíbrio e conseguir ter a tranquilidade para trabalhar o revés para algo positivo.

O futuro de Conor McGregor ainda é nebuloso. Mas a frase do Presidente do UFC pode descrever bem o que pode acontecer.

“Há dois caminhos onde isto pode ir. Ou ele (Conor) vai voltar com mais vontade ou é o fim.”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *