Fanático pela Ponte Preta, árbitro de MMA, Robertão Thomaz comemora 1000 lutas, revela ter sofrido bullying e dispara: MMA não é Vale-Tudo!

Árbitro paulista é um dos mais conhecidos do país no MMA - Divulgação Circuito Talent/Welington Borges
Árbitro paulista é um dos mais conhecidos do país no MMA – Divulgação Circuito Talent/Welington Borges

 

Nesta segunda trazemos uma entrevista especial com uma das figuras mais queridas e respeitadas do MMA: O árbitro Robertão Thomaz.

“Robertão” como é conhecido no mundo das lutas, pode parecer de expressão “marrenta” mas é um dos árbitros que mais se preocupam com os atletas.

Em uma entrevista especial para o Planeta Octógono, Robertão comemorou a grande marca de 1000 lutas arbitradas e falou sobre diversos assuntos.

O árbitro que também é policial do departamento de Operações Especiais no Estado de São Paulo, contou que conheceu as artes marciais após sofrer bullying.

Robertão também falou sobre vários problemas que o MMA nacional ainda possui e acredita que o esporte precisa mudar alguns antigos conceitos.

 

Veja na íntegra a entrevista com Robertão Thomaz:

 

Robertão é faixa preta de Jiu Jitsu, graduado no Karate e pratica boxe inglês - Arquivo Pessoal
Robertão é faixa preta de Jiu Jitsu, graduado no Karate e pratica boxe inglês – Arquivo Pessoal

Planeta Octógono – Como você começou nas artes marciais? Teve alguma inspiração inicial?

 

Robertão Thomaz – Comecei aos 4 anos, no Karate Shotokan sendo aluno do Mestre Mishima que tinha chegado de Okinawa e não falava uma só palavra em português.

Eu era mascote do time e convivi aprendendo a cultura japonesa e aos 18 anos fui graduado preta quando estudava na escola preparatória de cadetes do Exército, onde o Mestre também ministrava.

Comecei a me dedicar ao Karate porque sofria bullying por não saber jogar futebol e era o último escolhido nos rachões.

Resolvi revidar nos capitães das equipes como vingança da zoeira que faziam comigo por ser neto de portugueses. Hoje o Cristiano Ronaldo me salvaria… (risos).

Me graduei professor de capoeira com o Mestre Yves do Abada Capoeira.

Sempre mantive no boxe inglês e me graduei mais tarde em faixa preta de Jiu Jitsu com o Mestre Roberto Tozi.

 

Planeta Octógono –  Hoje, você é o árbitro paulista com maior notoriedade no cenário das lutas. O que você atribui esta conquista em sua carreira?

 

Robertão Thomaz –  A notoriedade veio com um complexo de aspectos: Conduta imparcial, o histórico de uma vida dentro da luta, a amizade com muitas equipes, o fato de eu treinar aonde vou trabalhar e o estilo Robertão de arbitragem, não parando o combate antes da hora.

 

Planeta Octógono –  Além de árbitro de MMA, você é policial. Se possível nos conte como é este seu trabalho e como as artes marciais o ajuda em sua função…

 

Robertão Thomaz –  A serenidade e honestidade contam muito. É obvio que o fato de ser das Operações Especiais e ter atuado no G.E.R (Grupo Especial de Resgate de Reféns da Polícia Civil) de São Paulo contribuíram demais.
Planeta Octógono –  Você tem um estilo diferente de arbitrar os combates, bem próximo dos atletas. Como você construiu seu estilo e você acredita que pode acabar se machucando por estar tão próximo da ação?

 

Robertão Thomaz – Penso que o posicionamento próximo me trouxe a observação criteriosa e também estar grudado na cena final da luta, onde posso ser mais rápido para interromper a luta e proteger a integridade física do atleta desfavorecido naquele momento. Procurando o lugar certo para ver tudo.

Árbitro bom não assiste a luta mas vê o golpe. Essa é a diferença.

 

Planeta Octógono –  Nós sabemos do seu amor pela Ponte Preta. Você vai aos estádios? E como você enxerga o MMA sendo divulgado de maneira bem próxima do futebol?

 

Robertão Thomaz –  Sou “Macaco” desde meus 4 anos de idade. Sou Ponte Preta. Amo meu clube, meu estádio Majestoso, nossa bandeira e nosso hino. Somos pequenos em orçamento e gigantes no amor a Macaca.

Sou fanático mas não pelo time, não por jogadores temporários, nem pelo futebol.

Mas por torcer e até por isso fundamos nossa “Curva UFDF1900 Ultras” que ocupa a curva dos anéis do Majestoso, e nosso grupo de fanáticos usa camisas de MMA, vários são praticantes de artes marciais e vejo com otimismo tal proximidade.

E onde vou arbitrar, levo minha bandeira e minha camisa que chamo de manto sagrado.

A Ponte Preta só tem um título que veio a pouco tempo: A Miss Campinas, Wendy Meira que também concorre a musa do TUF.

Nunca ganhamos nada no futebol (risos). Mesmo assim estamos toda semana no Majestoso.

 

Robertão é torcedor da Ponte Preta - Arquivo Pessoal
Robertão é torcedor apaixonado pela Ponte Preta – Arquivo Pessoal

 

Planeta Octógono –  Neste últimos 5 anos, o esporte teve um crescimento muito grande, chegando a atingir a TV aberta brasileira e o público que está agora conhecendo o esporte. Na sua opinião, quais são os benefícios e os problemas que isto pode vir a causar?

 

Robertão Thomaz – Patrocínios maiores, bolsas melhores, necessidade de maior organização. Uso de bons profissionais enfim, toda uma infra estrutura melhor. Acho válido e vejo com bons olhos a presença da TV aberta.

Obvio que tudo aquilo que é de massa, traz novos padrões. Alguns problemas na comunicação e também vai aparecer os “boleiros do MMA” que assim como acontece no futebol, são os “pitaqueiros de plantão e técnicos”. Mas ainda assim o esporte vai crescer muito.

E isso só vem confirmar a tese de quem tentar investir em um plano de cartelização e monopólio em cima de um canal a cabo, voltado a lutas, não terá tido a menor visão a médio prazo. Ainda bem que isso não acontece no Brasil (risos).

 

Planeta Octógono –  Você tem acompanhado a terceira edição do TUF Brasil na Globo. O que você pensa sobre o reality? Você é a favor de “trash talking” (provocações) antes das lutas?

 

Robertão Thomaz – Acho um jogo psicológico. Parte de tudo como acontece na pesagem mas tenho um certo repúdío com os mal educados, tanto atletas como técnicos.

O MMA tem que ter glamour e alto nível. Não é briga de rua. Não é o Vale Tudo.

Equipes mal orientadas com lutadores “Bad Boys” devem ser cortados.

Arte marcial  é uma coisa, disposição é tudo mas falta de controle emocional e apelos, não há mais espaço para isso.

 

Robertão é um dos árbitros das edições do XFC no Brasil na emissora Rede TV - Arquivo Pessoal
Robertão é um dos árbitros das edições do XFC no Brasil na emissora Rede TV – Arquivo Pessoal

 

Planeta Octógono –  Você foi indicado para o prêmio Osvaldo Paquetá como um dos melhores árbitros nacionais. Como você se sentiu com essa indicação?

 

Robertão Thomaz – Foi uma honra dividir a indicação com meus amigos e irmãos. E demos o melhor exemplo de união. Arbitramos juntos o Coliseu em Maceió e todo tempo formamos um time de árbitros.

Flávio Almendra é um árbitro top e merece a popularidade que tem e volto a dizer. Os melhores árbitros do mundo estão no Brasil pois o MMA nasceu aqui e a matéria prima (lutadores) também.

Alguns gringos mandam bem como o Gary Copeland, Big John e o Herb Dean.

O Prêmio Osvaldo Paquetá tem me trazido ainda mais notoriedade e só tenho a agradecer a organização do prêmio.

 

Planeta Octógono –  As mulheres tem invadido o esporte e hoje temos grandes profissionais na área. O que você pensa acerca desta nova tendência?

 

Robertão Thomaz – Acho que lutadoras técnicas e também a mídia especializada está recheada de mulheres lindas e acima de tudo competentes.

Sempre digo que fui me meter em um “bolão” de lutas e perdi para minha amiga, Anna Carolina Ribeiro (jornalista de MMA) com quem nunca mais discuto MMA.

E tive a honra de conhecer outra mulher que dá show de conhecimento, a Fabíola Nishi (jornalista do portal feminino Dama de Ferro MMA), conhecedora, pesquisadora e uma amiga especial.

Se houver o critério da méritocracia, teremos em breve donas de cinturão do UFC.

 

Robertão valoriza o crescimento das mulheres no esporte - Divulgação Circuito Talent/Mayara Pernetti
Robertão valoriza o crescimento das mulheres no esporte – Divulgação Circuito Talent/Mayara Pernetti

 

Planeta Octógono – Você completou 1000 lutas arbitradas. Como você se sente ao atingir esta grande marca em sua carreira?

 

Robertão Thomaz – No último dia 12 de abril, completei 1000 lutas profissionais arbitradas em Valinhos durante o Circuito Talent.

É mais um marco histórico ou recorde. É para mim uma prova de credibilidade entre os lutadores, head coaches e organizadores de eventos que me convidaram e me apoiaram nessa caminhada a anos.

Porém está chegando a hora de apenas ensinar e orientar a nova geração de árbitros competentes que vem vindo.

Recentemente assumi a Diretoria Nacional de Arbitragem da CBMMA (Comissão Brasileira de MMA) e pretendo ouvir os árbitros nacionais e implementar um novo projeto de ação.

Vem muita novidade por aí. E no melhor estilo Robertão: Papo Reto sempre, falando o que precisa ser falado, doa a quem doer.

 

Robertão ganhou um prêmio pela marca alcançada de 1000 lutas arbitradas no MMA profissional - Arquivo Pessoal
Robertão ganhou um prêmio pela marca alcançada de 1000 lutas arbitradas no MMA profissional – Arquivo Pessoal

 

Planeta Octógono –  Se puder mande uma mensagem para os fãs e leitores de nosso site…

 

Robertão Thomaz – Quero dizer que a paixão pelo MMA é algo que vem contaminando milhões de pessoas pelo mundo todo e vou me dedicar muito ainda para fazer este nosso esporte evoluir.

É uma honra estar e ter feito parte da construção do MMA.

Duas palavras para definir o árbitro Robertão Thomaz: Colecionador de amigos.

Agradeço a oportunidade e estou muito grato. Um grande abraço a todos da Gazeta.

 

Conheça o árbitro Robertão Thomaz:

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