O Planeta Octógono entrevistou uma das maiores referencias do esporte no Brasil.
Marcelo Alonso, é fotógrafo, repórter, jornalista e está lançando no país um livro, chamado Do Vale Tudo ao MMA, aonde com várias fotos históricas, o brasileiro, juntamente com o famoso fotógrafo japonês Susumu Nagao, contam a história do esporte.
Alonso também contou detalhes pessoais, sobre como começou no esporte, revelando que se emocionou com a vitória de Rodrigo Minotauro sobre Brendan Schaub no Brasil.
Além disso, muitos detalhes dos bastidores foram citados pelo jornalista, como a importância de seu pai, em sua carreira e do lutador Rogério Minotouro.
Marcelo também aproveitou a oportunidade para analisar a atual situação do MMA no país neste bate papo ao Planeta Octógono.
Veja a entrevista na íntegra:
Planeta Octógono – Marcelo, conte para os fãs, como você começou no esporte…
Marcelo Alonso – É uma longa história. Antes de trabalhar com lutas e me formei em biologia e cheguei a trabalhar alguns anos como responsável pelas análises bacteriológicas de um importante laboratório do Rio.
O que me levou pra luta na verdade foi a fotografia que eu levava como hobby desde 1989 quando fiz um curso profissionalizante no Senac.
Em 1991 quando comecei a treinar Jiu-Jitsu o meu mestre (Cláudio França), que organizava e Copa Atlântico Sul (na época o campeonato de Jiu-Jitsu mais importante) me pediu pra fotografar o evento pra ele.
Num destes eventos (em 1992) conheci o Paulo Roberto editor da revista Kiai que me pediu para mandar fotos e “relatórios” de eventos que ocorriam no Rio que na época, graças a explosão do Jiu-Jitsu originada das vitórias de Royce no UFC, já era o centro nervoso das Artes Marciais no Brasil.
Em menos de seis meses eu escrevia matérias, vendia anúncios, fotografava eventos e ainda revelava num mino laboratório que fiz no meu banheiro.
Me apaixonei por aquela rotina e com o aumento da demanda na KIAI resolvi largar o meu emprego de biólogo, diploma, pós graduação e carteira assinada e pulei de cabeça no apaixonante mundo do jornalismo. Abri um estúdio em Copacabana onde passei a fazer os anúncios e capas da Kiai.
Em 1994 passei a ser colaborador da Revista Tatame e também trabalhar como correspondente para as revistas Kakutougi Tsushin (Japão), Budo (França), Cinturon Negro (Espanha) e Full Contact Fighter (EUA)..
Planeta Octógono – Como sua família reagiu, quando você resolveu largar a futura profissão de biólogo, para trabalhar com o Vale Tudo, que agora se transformou no MMA?
Marcelo Alonso – Não é a toa que dediquei o livro do Vale-Tudo ao MMA ao meu pai, Luiz Alonso.
O cara tem que ter uma cabeça muito diferenciada para bancar quatro anos de faculdade do filho e depois, de ele estar empregado, apoiá-lo em largar tudo e começar tudo de novo numa área que nem existia (jornalismo de lutas).
Quando passei a ser editor da Revista Tatame e trabalhar como correspondente para revistas estrangeiras foi ele também me incentivou a fazer a faculdade de jornalismo.
Além de ter sido um grande amigo, meu pai foi um visionário por acreditar neste esporte.
Curioso é que ele teve uma influência parecida na carreira do Rogério Minotouro.
Planeta Octógono – Ele Apoiou o Minotouro também?
Marcelo Alonso – Antes de ser lutador, o Rogério namorou 4 anos com a minha irmã. Eles se conheceram na Bahia e em 1998 ele veio morar no Rio para cursar a faculdade de Direito.
Meu pai, que era advogado, arrumou um estágio para ele em seu escritório e paradoxalmente, como era grande fã do Rodrigo, passou a incentivar o Rogério a abandonar o trabalho para seguir sua vocação.
O Rodrigo tinha uma gratidão muito grande pelo apoio que meu pai deu ao seu irmão. Tanto que, assim que chegava de suas lutas no Pride, levava as fitas para o coroa ver.
Pouco antes de o meu pai falecer em 2002, quando precisou de uma transfusão de sangue, o Rodrigo teve uma virose e não podia doar, mas, junto com o Rogério, fez questão de levar namorada e vários amigos para ajudar.
São atitudes pequenas mas que mostram o caráter das pessoas. Não é a toa que estes dois chegaram aonde chegaram.
Não só ajudam a todos que o cercam como também não esquecem quem os apoiou.
Planeta Octógono – Deve ser difícil apontar somente um, mas para você qual é o momento, ou quais são os momentos mais marcantes em sua carreira no esporte?
Marcelo Alonso – Nos últimos 20 anos tive o privilégio de acompanhar de perto as menores e maiores conquistas dos grandes ídolos deste esporte.
É realmente impossível escolher um momento. Nos bastidores escolheria os momentos com o Carlson, que foi a figura mais carismática e engraçada que já conheci.
Mas se tivesse que escolher, em termos de eventos, teria que apontar cinco que me marcaram muito. 1º o Pride GP de 2003.
Onde Minotauro e Wanderlei conquistaram os dois cinturões mais importantes do MMA na mesma noite.
Isso tudo com a Glória Maria lá com a gente, foi demais … Outra que me marcou foi a estréia do Vitor nocauteando Tra Telligman e Scott Ferrozo na mesma noite, eu tinha acabado de lançá-lo na Tatame como aposta do Carlson 6 meses antes …
Foi muito bom acompanhar de perto o Anderson conquistando o Cinturão do UFC em cima do Rich Franklin.
Dormi no quarto do Diógenes e do Puff, ao lado do quarto do Anderson, na noite anterior. De manhã tomamos café, brincamos o Anderson fez suas imitações e ninguém reconhecia ele no hotel.
Na noite, depois da luta, lembro que demoramos quase 1 hora da arena até o quarto por conta dos fãs pedindo autógrafos.
Foi muito legal acompanhar de perto o reconhecimento crescente a ele. Outra luta antológica que o Anderson fez que me marcou foi contra o Lee Murray em Wembley.
Para mim ali nasceu o Anderson. Foi de arrepiar o cala-boca que ele deu naquele gangster.
Outro evento que me marcou muito foi o Extreme Fighting onde o Murilo empatou com o Tom Erikson, o Renzo nocauteou o Taktarov, Zé Mario e Carlão também finalizaram.
Também foi especialmente emocionante acompanhar de perto as vitórias do Werdum e Pezão sobre o Fedor.
O Werdum que não bebia, tomou um porre e a gente acabou fazendo um Carnaval nas ruas de San Jose na Califórnia com mais de 40 americanos gritando o nome dele.
Mas acho que em termos de emoção, de chegar às lágrimas mesmo, nada se comparou para mim a estréia do UFC no Rio.
Já estava emocionado com tudo o que representava a volta e todo o sucesso da chegada do UFC no Brasil.
Quando o Minotauro nocauteou o Brendan Schaub, não tive como não lembrar do meu pai. Chorei igual criança.
Planeta Octógono – Depois de muito tempo, vimos o UFC voltar ao Brasil. E agora o Ultimate vem com força total, expandindo eventos pelo país. Como você enxerga a importância do Brasil para o UFC?
Marcelo Alonso – Total. Na realidade o Brasil sempre foi o país mais importante do mundo do MMA em termos de fornecimento de mão de obra.
Somos indiscutivelmente o maior celeiro de lutadores do mundo.
Hoje, com a nossa economia forte e a Rede Globo popularizando o evento, somos também o segundo mercado consumidor do UFC e a tendência, na minha opinião, é que isso aumente nos próximos anos.
Planeta Octógono – Tirando uma curiosidade dos fãs. Quais são seus ídolos no esporte?
Marcelo Alonso – Tive a oportunidade de acompanhar desde o começo alguns dos maiores ídolos do esporte. Por isso aprendi a respeitar cada um deles.
Os fãs em casa não tem idéia o quão difícil é chegar lá em cima do octagon ou do ringue para representar o Brasil.
Treinar contundido, muitas vezes sem patrocínio e ainda ter que subir no ringue e dar show.
Por tudo que vivi acompanhando esta primeira geração seria injusto apontar um, diria que todos eles são meus ídolos.
Planeta Octógono – O UFC está realizando sua segunda edição do reality show, The Ultimate Fighter Brasil, neste mês de março. Como você enxerga a participação da TV aberta na expansão do MMA no país?
Marcelo Alonso – Acho maravilhosa a idéia de humanizar o lutador, mostrar que os atletas do MMA são profissionais que trabalham duro, tem famílias, sonhos como todos os brasileiros.
Foi assim que o Dana conseguiu emplacar o esporte por lá.
A nossa situação foi um pouco diferente porque aqui o esporte já estava reconhecido e na grade da Rede Globo, mas o TUF teve papel fundamental no sentido de conseguir sacramentá-lo na simpatia do povo em geral.
Com o TUF atingimos um público diferente, que nunca assistiria ao UFC.
A vovó, a tia, o médico ou até aquele desempregado que estavam assistindo o Fantástico e acabaram se identificando com as histórias daqueles lutadores que viviam dramas “tão brasileiros” e lutavam para vencer na vida.
Um venceu o câncer, outro chorava de saudade da filha, o outro morava na academia. Um Big Brother de gente que batalha de verdade, que não está ali pra festa.
Não tem como não se identificar e torcer…. Vamos torcer que esta nova edição tenha personagens tão interessantes como a primeira.
Pessoalmente fiquei muito chateado quando decidiram repentinamente só fazer o evento na categoria 77kg, quando nossos maiores talentos em potencial estão na 70kg.
Espero que na próxima edição eles se organizem melhor e evitem que centenas de atletas invistam o pouco que tem em passagens para chegar aqui e descobrir que sua categoria foi cancelada.
Planeta Octógono – Você e o fotógrafo japonês Susumu Nagao, lançaram recentemente um livro sobre a história do MMA, com um grande acervo de fotos históricas do esporte. Como surgiu a idéia do projeto?
Marcelo Alonso – Na realidade desde 2008 eu já tinha planos de escrever um livro que contasse a história do MMA privilegiando imagens.
Em 2009 cheguei a viajar para Las Vegas com 5 capítulos escritos para apresentar para uma respeitada editora americana que lançou o livro do Forrest Griffin.
Os caras adoraram a idéia, mas não tinham interesse em investir num formato maior que privilegiasse as imagens, então resolvi arquivar o projeto.
Em 2010 quando o Nagao veio ao Rio, decidimos juntar nossos acervos (começamos a fotografar MMA no mesmo ano, 1992, ele lá e eu cá) e fazer um banco de imagens.
Assim que o banco de imagens do PVT, entrou no ar tive a idéia de fazer uma exposição: 20 anos de Luta do Vale-Tudo ao MMA.
Apresentei a idéia ao pessoal do marketing do Combate e ao Shopping Rio Sul e eles entraram como patrocinadores.
O sucesso da exposição me trouxe de volta a idéia de fazer o livro, mas não só restrito a fotos minhas e do Nagao, mas que lembrasse os capítulos mais importantes da história do esporte desde o seu marco zero, ou seja, a chegada de Conde Koma ao Brasil, coincidentemente há 100 anos 1913.
Daí veio a idéia de 100 anos de luta. Apresentei o projeto ao diretor de marketing do Combate, Daniel Quiroga em outubro de 2012, ele adorou.
Como eu já tinha os 5 capítulos mais antigos escritos, o trabalho maior foi mesmo de edição de texto e imagens e conseguir gráficas de boa qualidade que o rodassem no formato que eu queria pelo valor que eu podia pagar.
Depois de muita batalha cheguei a Gráfica Santa Marta, uma das melhores gráficas em livros de capa dura do Brasil.
Graças a Deus no fim de dezembro de 2012, a criança nasceu e consegui realizar meu grande sonho.
O mais legal de tudo foi poder trazer o Nagao e poder contar com o apoio de grandes ícones da luta nos dois eventos de lançamento na FNAC de São Paulo e Rio.
Ficamos emocionados com o apoio dos grandes protagonistas deste livro, que foram lá nos dar um abraço.
Nomes como Fábio Gurgel, João Alberto Barreto, Minotauro, Werdum, Zé Mario, Minotouro, Macaco, Eugênio Tadeu, Demian, Carlão, Wallid, Claudio Coelho, Pederneiras, Kyra Gracie, Cunha, Bebeo, Nikolai.
Em suma, foi emocionante. Agora no dia 25 de março (seg) vamos fazer o terceiro lançamento em outra cidade que é a cara do MMA, Curitiba.
Depois do Rio, sem dúvida, a cidade mais importante na história do esporte no Brasil e onde escrevi boa parte das minhas reportagens. Vai ser bom demais reencontrar os amigos na FNAC de lá.
Aliás, deixa eu aproveitar para vender meu peixe. Quem quiser o livro mais barato que nas lojas é só Clicar Aqui (Risos).
Planeta Octógono – Hoje, temos dois campeões no UFC, Anderson Silva e José Aldo, e Renan Barão muito próximo do título. Você acredita que estes lutadores vão se manter campeões por muito tempo?
Marcelo Alonso – Acho que José Aldo e Anderson estão num patamar acima da média e tem tudo para se manterem campeões enquanto estiverem treinando e competindo em alto rendimento.
Vejo o Aldo em início de carreira, mas não vejo o Anderson encarando esta árdua rotina de treinos por mais muito tempo.
Pessoalmente se fosse ele, pararia quando acabar o contrato (tem mais duas lutas).
O Anderson não tem mais nada a provar, é o maior de todos os tempos indiscutivelmente.
O MMA é um esporte muito traumático para o corpo, por mais que ele se preserve e tenha uma genética excelente, o corpo uma hora traz a conta. Queria vê-lo parando por cima.
O Barão está chegando agora e, por enquanto, não vejo ninguém com potencial de vencê-lo, mas ainda não colocaria no patamar dos gênios do esporte: Anderson, Jones, GSP e Aldo.
Planeta Octógono – E os novos talentos que estão chegando, você aponta algum nome que pode se tornar campeão do Ultimate?
Marcelo Alonso – Dos que já estão no evento, acho o Glover Teixeira uma parada duríssima para o Jones, acredito piamente que quando Belfort e Anderson se aposentarem nos próximos anos, o Ronaldo Jacaré consiga o cinturão dos médios.
Demian Maia está bem próximo do title shot nos meio médios. Se continuar melhorando seu jogo em pé poderá surpreender.
Dos que lutam no Brasil e podem dar trabalho, gosto muito do Toninho Fúria e aposto no futuro do Raoni Barcelos, que vem evoluindo muito na Nova União.
Fiquei chateado de não ver o Cassiano Tytschyo entre os escolhidos do TUF. Sem dúvida é um dos melhores que temos no Brasil até 77ks e merecia uma oportunidade.
Não consigo entender o critério deles neste processo de seleção.
Planeta Octógono – Se você puder, mande uma mensagem aos fãs do esporte e aos leitores da Gazeta Esportiva.net…
Marcelo Alonso – Que continuem apoiando e prestigiando o nosso esporte. Com a força desta nova geração quem sabe um dia chegaremos ao patamar de popularidade e investimentos do futebol. Depois de tudo que já passamos, não custa sonhar …
Mtu boa a entrevista !