Transgredir ainda é uma boa saída, não?

O espaço da corporeidade na escola tem sido referenciado como uma quadra, uma quadra poliesportiva. Em um primeiro olhar, considerando apenas o termo poliesportiva, é de se imaginar que a diversidade de práticas da cultura corporal de movimento estejam representadas ou, como necessário, presentes nos momentos de vivências de nossos alunos.

Em recente processo de mediação junto a alunos do ensino médio nos deparamos com um magnífico espaço físico para nossos encontros de construção do conhecimento. O espaço amplo, mais de 50 X 40 metros, com arquibancada agregada, coberto, vestiários com chuveiros e adequadamente construído para o uso de alunos e alunas.

No entanto, por razões que desconhecemos, foram demarcadas apenas e tão somente as quadras para Basquetebol (embora sem as tabelas), futsal (embora sem a fixação das traves), voleibol (embora sem os postes e sua fixação no solo) e handebol (oficial em tamanho máximo em suas demarcações).

Nossa proposta aos alunos e alunas foi a de que, em todo o momento de nossos encontros (duas aulas seguidas – não sei exatamente o motivo), todos e todas as alunas deveriam participar ativamente por todo o tempo destinado à aula.

Ao buscarmos apoio na direção de dotarmos o espaço de quatro quadras simultâneas para as atividades com Peteca, Badminton, Tênis, Pelota Basca Adaptada, Voleibol e até mesmo o futsal, solicitamos a fixação de postes para além do piso oficial da quadra para poder ter simultaneamente as quatro quadras desejadas. Soubemos da existência desses postes em outra unidade e os solicitamos. Não tivemos a aceitação ao pedido e tivemos como resposta “fazer isso na quadra (marcar quatro diferentes espaços, ainda que sem provocar destruição do piso) seria um crime com o Esporte”.

Pois bem, graças ao apoio de colegas de trabalho conquistamos adquirir cabo de aço (45 metros), fixadores de parede (ganchos) e colocar as quatro redes que tínhamos como recurso, uma em seguida da outra. Passamos a contar com quatro espaços para vivências, todos os 40 alunos de nossas turmas passaram a vivenciar, simultânea e adequadamente, os desafios que lhes foram apresentados. Passou a ser possível ter tarefas adequadas a cada grupo, respeitando as diferentes habilidades, possibilidades, conhecimentos, atitudes e, principalmente, cooperação com o outro.

Praticamente todos os alunos e alunas compreenderam os significados destas transformações, se bem que com certa desconfiança ao início. As transgressões que estamos propondo poderá, um dia, ser de grande valia para nossos alunos, futuros mediadores na sociedade que saberão, distintamente de nossos superiores administrativos, considerar o que de fato é significativo para a corporeidade de nossos alunos. Não teremos mais engenheiros que não inserem espaços de lazer em suas construções, arquitetos que desconsiderem a natureza e a liberdade, pedagogos que desconheçam a Educação Física Escolar, assim como outros componentes igualmente desvalorizados (artes, por exemplo) e outras tantas incoerências com a corporeidade.

Daniel Carreira Filho

6 comentários

  1. Perfeito, Prof. Daniel . Há anos procuramos lutar contra esta cultura de que todos julgam “entender a Educação Física” em sua essência. Felizmente, já caminhamos muito e os educadores bem intencionados e interessados, já a respeitam como genuína e grande responsável pela “corporeidade” dos educandos.

  2. Prof. Odilon, grato pelo comentário. Sabemos de sua luta no seio da Fundação Casa e das inúmeras dificuldades vividas na condução de seu trabalho. Parabéns pelo seu empenho e competência. Abraços

    1. Olá, Ednei
      Sabemos o quanto é complexo mediar o conhecimento em tamanha gama de equívocos que são sistematicamente cometidos. Vamos, todos nós, batalhar pela transformação desta realidade. Nós precisamos a rota da Educação Física Escolar juntos!!! Vamos ???

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