Prezados leitores, desejo que este texto possa ser lido para além dos olhos, seja ouvido para além da audição, percebido sem que seja tocado, seja, apenas, com o sentimento de lhe provocar, independente do que me fez escrever.
Durante muitos anos ouvi inúmeros profissionais afirmando de forma efusiva, entusiasmada, quase que como uma doutrina insubstituível e imutável, que a prática do esporte forma o caráter de pessoas, é saúde e fortalece o espírito.
Vou me fazer valer de algumas passagens vividas para buscar a compreensão que apontarei ao final do texto:
“alunos” de curso de medicina se preparando para jogos entre faculdades inoculando substâncias em seus corpos antes do início da partida;
“professores” alterando data de nascimento de seus alunos nas fichas de inscrição para garantir a participação de crianças e adolescentes mais bem preparadas para o jogo;
“treinadores” administrando diuréticos para crianças de 8 a 10 anos de idade de forma a garantir a participação de um dos dois bons atletas com o mesmo peso em outra categoria;
“pais” nas arquibancadas de um ginásio gritando para o filho chutar o joelho machucado do oponente previamente identificado pelo pai antes da disputa;
“orientador” instigando dois atletas, que estariam sob sua digna orientação” a se agredirem com mentiras ditas a ambos de forma a impetrar a discórdia;
“dirigente” encaminhando ofício em que compara o atleta a “lixo” quando a afirma estar “saneando” a seleção;
“empresas” favorecendo o desenvolvimento de competições do tipo “Iron Kids” com a participação de crianças de 4 a 6 anos;
“pai” de um garoto de 10 anos de idade o obrigando ao uso de anabólicos esteroides para que tenha o “corpo perfeito” o mais cedo possível;
“resultados esportivos” sendo conquistados pelo uso de anabólicos esteroides nas mais diferentes modalidades;
“um espaço na mídia” publicando a proposta da realização de dois jogos olímpicos, um para os “caretas” sem o uso destes medicamentos;
“em uma tese de doutorado” foi apontado que crianças e adolescentes de 14 a 18 anos (4.1% da amostra) já haviam utilizado anabólicos esteroides e outras substâncias que alterariam os seus corpos com base nas imagens de ídolos do esporte (iconolatria);
Por fim, reproduzimos posicionamento de inúmeros autores e autoras: “A competição não é boa ou má. O que importa é o ambiente em que ela ocorre”. Acrescentaria, especialmente na ética entre os humanos que organizam, preparam pessoas e julgam os resultados. O que precisamos ter entre os humanos é o respeito ao semelhante. Felizmente há, e muitos entre nós, que fazem a diferença.