O corpo ao lado não fala comigo

Ao longo de anos (con)vividos no fértil território escolar sentimos vibrações corporais de todas as culturas desejos, prazeres e censuras naturais de um ambiente que anida busca construir a democracia do corpo.

Os corpos juvenis, repletos de energia exuberando desejos e altamente autocensurados pelas composições grupais da juventude que faz da relação midiática e tecnológica seus espaços de trocas ou pressões.

Eu apareço com meu arcabouço, o corpo, que raramente vai à escola. Afinal, o corpo não tem espaços de expressão livre no ambiente dos corpos escolares, em especial o corpo docente, discente e administrativo, que embora humanamente formado, volta-se para sua própria exclusão no momento da suposta atenção ao conhecimento.

Corpo, aquele que está ao meu lado, não pode ou poderia dialogar com o meu. Ficamos, adequadamente separados em fileiras e colunas, qual formação aquartelada que, em suma, restringem nossos desejos de corporeidade manifesta.

Se corpo somos no mundo e o mundo se encontra inexoravelmente vivo no cotidiano escolar,qual a razão de não haver diálogos corporais intensos?

Qual a motivação dos que mediam as relações no território diversificado da escola em nos perfilar, homogeneizar, silenciar nossos gritos de silêncio corporalmente impingidos? Seriam os corpos apenas um arcabouço de transporte da mente, da corporeidade negada, da vida oculta, que se revela, com nos disse Matogrosso, onde é por debaixo dos panos que se encontra a vida?

Convivemos por anos, e não foram poucos, com as mentes brilhantes dos colegas de turma, de escola, da rua e da vida livre nos espaços de efetiva liberdade corporal. Quando pensei que poderia ouvir o corpo ao lado, ele se foi. Foi para nunca mais o encontrar, pois a vida nos leva por caminhos que nos distanciam, nos afastam e nos fazem esquecer do corpo ao lado. Estaria eu surdo para os gritos do corpo ao lado ou seria ele mudo. Anida não sei, pois onde o meu corpo está, tudo se repete, mudando apenas o corpo ao lado

Este texto e muitos outros são encontrados no livro “Crônicas do Ensino Básico”, organizado pelo professor Renato Pugliese, publicado pela Editora CRV. Vale a pena ler e, quem sabe, ter este livro em nossas aulas. Vejam lá….

 

Daniel Carreira Filho

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