Não faz diferença alguma, ou fará?

Estar frente a dois grupos de alunos matriculados no ensino médio integrado ao conhecimento técnico em uma escola pública do sistema federal nos trouxe inúmeras recordações, todas que nos mobilizam e nos provocam diariamente. Saber, pelos relatos desses alunos (80 deles), que as experiências vividas até então foram, em sua grande maioria (85%) frustrantes, excludentes, machistas, desrespeitosas de suas diferenças e, principalmente, aceitas pelos gestores da educação nos espaços escolares em que suas corporeidades foram abandonadas.

Nossas tentativas de alteração desta decepcionante realidade contam com a “cumplicidade” de alguns poucos professores de outros componentes curriculares. A corporeidade foi e é discutida sob diferentes pontos de vista (Walter Roberto Correia nos fala em “vista de um certo ponto” e nos provoca afirmando que “se não houvesse Educação Física na Educação Básica Nacional, que diferença faria?).

Realmente, em escolas que ainda não superaram o “fazer pelo fazer”, o quarteto “hegemônico”, as sucessivas atividades sem finalidades, significados e prazeres, a corporeidade está efetivamente abandonada. Cabe lembrar que as questões da corporeidade não são território exclusivo da Educação Física, somos corpo em nossas mediações sociais, afetivas, políticas…. (nos provoca David Le Breton).

Enquanto isso o mundo gira, o eclipse se apresenta, o terrorismo assombra, as desigualdades se ampliam, a vida vai no sentido contrário da humanização, os aspectos técnicos continuam sendo objeto de defesa da escola em detrimento da formação humana indispensável.

Apresentamos, na semana que passou, um vídeo aos nossos alunos de um “aprendiz de malabares”, daqueles que você encontra nos cruzamentos de nossa cidade, para que todos eles apresentassem um documento sobre o que podem ver nas imagens. Um ser humano, travestido de palhaço, equilibrado em um banco com malabares visitando os ares e, por vezes, caindo ao chão pelo seu descontrole (ainda em processo de aprender).  Nossos alunos tentaram, por duas aulas, reproduzir o movimento dos malabares com bolinhas de tênis de campo e sentiram a dificuldade do movimento. A maioria absoluta desistiu da tarefa pela sua complexidade.

Espero pelos comentários do vídeo e tentar compreender o que estará para além da imagem do movimento tentado e fracassado do malabarista social excluído.

Daniel Carreira Filho

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