Nada mais injusto do que tratar igualmente os desiguais

Vamos iniciar nossa aula de Educação Física para os nossos 40 alunos e alunas e para facilitar, 20 deles são meninos e 20 meninas.

A proposta é a de jogarmos Peteca, isso mesmo uma atividade criada por indígenas brasileiros que foi transformada em esporte tendo o estado de Minas Gerais como um dos principais redutos de rendimento em nosso país (saiba um pouco mais em www.cbpeteca.org.br/historia-da-peteca).

O professor, conhecedor de seus alunos, escolhe a seu critério oito deles, quatro meninas e quatro meninos, para escolherem seus parceiros de jogo. Obviamente, usando do critério de sorteio entre estes oito iniciais, estabelece a ordem de escolha, quem inicia e a ordem de chamamento dos demais colegas para comporem o grupo. A expectativa desta estratégia seria tornar os grupos homogêneos e desenvolver os jogos. No entanto, devemos nos lembrar de que temos, em um grupo de 40 alunos, crianças com diferentes habilidades, competências e, principalmente, compreensão do mundo em que vivem que as impede, em função dessa estratégia, de participarem efetiva e afetivamente da proposta. No entanto, é esta a estratégia que é transmitida em muitos cursos de formação, assim como a permanência de algumas crianças esperando pela oportunidade de se envolverem com as práticas (falamos sobre a quadra em post anterior).

Para comparar a estratégia com outro componente curricular, imaginem uma sala de aula com os mesmos alunos para uma atividade de leitura de texto no componente história, apenas 8 livros disponíveis e o professor deixar parte da sala sem ler (ficarem na arquibancada). Qual a lógica desta estratégia quando a preocupação reside na aprendizagem individualizada?

Certamente nosso leitor já passou por experiência em sua vida e percebeu que os últimos a serem escolhidos foram, exatamente, os que mais precisavam das vivências em função de suas dificuldades. São, também, os que foram sujeitos à gozações dos demais e, como resultado, os que nada puderam vivenciar. Os mais habilidosos de seu grupo não permitem que estes participem.

Em recente vivência que tivemos com um grupo de adolescentes com a proposta do voleibol (ensino médio) tivemos enorme dificuldade em transformar a prática de forma a respeitar as dificuldades presentes. A aceitação, por exemplo, de que a bola pudesse tocar o solo antes de ser tocada pelos menos hábeis foi de difícil conquista. A perspectiva do esporte institucionalizado, sem sua transformação de acordo com as diferentes habilidades individuais, foi o referencial para a prática. Após algumas vivências, com outras experiências corporais, o grupo passou a aceitar e adotar estratégias diferenciadas, sem que fosse necessária a intervenção docente.

Portanto, respeitar as diferenças individuais e ofertar alternativas que se adequem a cada um dos alunos é a proposta educativa para todos.

1 comentários

  1. Disse tudo!
    Todos os alunos devem ter seu espaço, seja em qualquer disciplina, seja qual for a sua dificuldade.
    Em alguns pontos deste post, me vi nessa situação, onde os mais hábeis tinham mais atenção, pela professora.
    Nunca consegui virar estrela ou pular sobre o cavalo, mas isso não era visto, apenas ignorado.
    Hoje com tantos especialistas neste assunto, fico assustada quando vejo que ainda esse tema vem sendo discutido.
    Fica a dica!

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