Movimento restringido na infância por equipamentos de adultos


Este texto foi construído pela observação de uma festa de aniversário de uma criança, uma menina de 5 anos, e as ações dos pais e familiares com seus filhos, netos e sobrinhos. O que observamos vem em uma sequência natural, infelizmente, de há muitas décadas, quiçá séculos, quando assumimos a responsabilidade pelo desenvolvimento de nossas crianças, especialmente em tenra idade. O ser humano vem ao mundo após aproximadamente nove meses crescendo em restrito espaço no útero materno. E a partir do nascimento tem início o processo que denominamos como censura do movimento pelos adultos. Talvez alguns dos leitores irão se lembrar da forma em que era colocada a criança em seu berço e para ser abraçada, acariciada e alimentada pela mãe e familiares Chamamos esta primeira “vestimenta” de “criança charuto”, envolta em uma faixa umbilical, com um cueiro por sobre, mais o pagão e o cobertor que enrolavam a criança com os braços imobilizados. Sobrava-lhe a cabeça que, diga-se de passagem, sobre a qual ainda não conquistava o domínio. Em uma pesquisa que realizamos na plataforma digital pulverizada por influenciadores sem o mínimo conhecimento sobre desenvolvimento humano, propunham esta atitude com crianças, pasmem, de 8 meses como forma de tranquiliza-los. Talvez seus ancestrais tivessem adotada esta atitude em função das chamadas “crises nervosas” de seus filhos. O que conquistam é o cerceamento do movimento para poder realizar suas atividades e o pleno desenvolvimento. Passado um certo tempo, quando a criança passa a engatinhar, de distintas e objetivas formas, passamos ao segundo instrumento de censura do movimento, o chiqueirinho. Um espado de um metro e meio quadrado, com almofadas no solo e uma altura que tornava impossível a criança de lá sair. Objetivo, “dar um tempinho” para os adultos realizarem as necessárias tarefas sem interrupções pela criança. Certamente, melhor, muito melhor, do que o berço. Infelizmente, pela forma construtiva do aparato (chiqueirinho) algumas crianças se enforcavam entre as grades verticais de madeira. Felizmente, graças a análise das condições do equipa mento, foram construídas novas estruturas que não permitiam esta tragédia, mas, continuam cerceando o movimento. Mas, a criança que conquista sentar-se e apoiar-se na mobiliária do lar para permanecer em pé, para aprender o equilíbrio e tentar os primeiros passos não encontra condições no interior do chiqueirinho para tal enriquecedora experiência, inclusive pela instabilidade do colchão. Uma alegria enorme assistir aos primeiros passos de uma criança, liberdade para buscar novidades e alcançar objetos prazerosos e alegrias. Aí, alguns adultos, uma vez mais pela “orientação de influenciadoras” adquirem o andador que, supostamente, favoreceria o desenvolvimento do caminhar da criança. Novamente um equívoco que pode trazer sérios prejuízos ao desenvolvimento saudável desse ser humano indefeso. Infelizmente, há registros de acidentes gravíssimos com o uso deste recurso condena do (proibido) em países evoluídos, além de prejudicar, sensivelmente, a coluna da criança. Até aqui temos que considerar os aspectos culturais presentes em nossa sociedade no trato com crianças.

Daniel Carreira Filho

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