Jovens manifestando-se (VI)

Segregação Metalinguística

Atualmente, o esporte, sendo uma fonte tão rentável, passou a ser utilizado como pretexto para a “inclusão” e “conscientização” durante torneios e campeonatos basicamente milionários. Tais pretextos, porém, tornam-se controversos quando os próprios esportes – seu acesso e divulgação – são “regulados” pelas entidades vigentes.

Os próximos parágrafos fazem jus ao título proposto, com a segregação do esporte pelo esporte, no panorama brasileiro das últimas décadas com o futebol. Afinal, o “esporte” não está sendo utilizado com um “propósito filantrópico”: o futebol – e apenas o futebol – está sendo utilizado com um propósito plenamente lucrativo, sob o pretexto de aspectos sociais relevantes. Outros esportes, afinal, são privados e praticamente alienados de uma sociedade manipulada.

A “mitificação” do futebol, e sua “exclusividade”, não são algo novo. Desde a década de 50, a “explosão” da febre do futebol foi plenamente explorada pela mídia, pelos governos vigentes e pela sociedade. A ascensão de ídolos como Pelé, Roberto Carlos e Zidane, e sua consagração antes do início do milênio (durante os anos 60 e 70) deram início a toda a propaganda populista baseada no esporte, e nesse esporte, a partir da conquista da Copa do Mundo, durante o governo militar de Médici.

O sustento da manipulação de massa, através do esporte, encontrava base na inigualável seleção brasileira de futebol da época: sua excelência seria uma forma de ressaltar a sociedade, quando “ela” fosse integrada ao conceito de “Brasil”. Sua qualidade, rentabilidade e “magnetismo” com as massas permitiram que o futebol brasileiro fosse o mais valorizado no mundo, porém o único esporte explorado e investido no país, por mais de 5 décadas.

Durante os anos 80, 90 e 2000, enquanto o Brasil assistia à contínua ascensão de ídolos como Ronaldo Fenômeno e Ronaldinho Gaúcho, a mentalidade de que “o futebol é a alma do brasileiro” transmitia um conceito, no mínimo, perturbador: a recordação dos, há muito tempo, esportes segregados pelo esporte que serviria para a manipulação midiática e social, ressaltada em um lema que quase substituiu o “Ordem e Progresso” de nossa bandeira.

Mesmo assim, o auge da predominância do futebol como “patrimônio do país” provavelmente atingiu seu auge em 2007, com a escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014, mas seu ápice definitivo no ano da “Copa em casa”, após a vitória do Brasil na Copa das Confederações – mesmo ano que, aliás, presenciou sua decadência.

A inesquecível derrota da seleção brasileira para a Alemanha, no homérico 7 a 1 das semifinais da Copa daquele ano, curiosamente iniciou um chamado processo de “desmistificação” do futebol no Brasil.

A completa decadência do Brasil no futebol desestabilizou as estruturas sócio-esportivas do país: enquanto o futebol do Brasil perdia sua “nobreza”, seu potencial de exploração governamental para as massas que o admiravam também se perdeu, tornando-o um esporte “indiferente” e sem tanta exclusividade.

Eu, como autor da crônica, não nego que me senti aliviado naquele dia. A manipulação estrutural através de um simples esporte e toda a segregação causada por ele,  seriam extintos – o que realmente aconteceu e vêm acontecendo.

Nunca vi uma cobertura tão relevante – e uma repercussão tão grande também – da seleção de vôlei feminino e sua vitória na Liga Mundial. Nunca vi uma popularização tão grande do basquete, e da NBA, no Brasil – intensamente explorado, hoje, pela “Fox Sports” e pelo “ESPN”. Aparentemente, há um movimento sutil de saturação gradual do futebol, proporcionando que, afinal, outras práticas corporais sejam exploradas no corpo da sociedade.

Proporcionando que não haja segregação em algo, essencialmente, inclusivo.

Texto de autoria de Mário Paiva

Daniel Carreira Filho

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