Escola e Educação Física: terceirizar os saberes?

 

Nestes últimos tempos vivemos a possibilidade da homologação da extinção do componente curricular Educação Física do ensino médio. Homologação sim. Pode parecer improcedente afirmarmos ser apenas a legalização de algo já presente em muitas escolas em nosso país. Recentemente, em um encontro com o coordenador do componente curricular de uma famosa escola paulistana, tivemos a confirmação dessa atitude de abandono e desvalorização dos saberes possíveis mediante a efetiva e afetiva presença da corporeidade como conteúdo de aprendizagem para crianças e adolescentes. A instituição reduziu de três aulas semanais para apenas uma a todos os seus alunos.

O professor ressentia-se da ausência de diálogos sobre a importância do componente na formação humana de seus alunos. Os pais, muito mais preocupados com o vestibular ou com o que se convencionou denominar saberes relevantes para a vida – os estudos de matemática, física, química, biologia e línguas – nada dizem ou se manifestam quanto à supressão da Educação Física de seus filhos. Estes são orientados para clubes, academias ou projetos esportivos para além da escola como se a Educação Física Escolar tivesse a responsabilidade apenas de ensinar, aperfeiçoar e competir nos esportes desejados pela direção escolar.

A instituição possui um magnífico espaço plural para as práticas da cultura corporal de movimento, contava com professores que buscavam desenvolver propostas condizentes com a realidade vivida pelos alunos em sociedade. Superavam o fazer pelo fazer. Encaminhavam discussões acerca das possibilidades humanas através da corporeidade e multiplicavam opções sobre a cultura corporal de movimento, deixando de lado a proposta centrada no quarteto hegemônico.

Mas, em benefício dos interesses exclusivamente de “mercado profissional” eliminam ou terceirizam o componente (como vimos em algumas escolas que oferecem a academia vizinha como forma de cumprimento dos objetivos do componente) aceitando que a corporeidade não faz parte dos conhecimentos necessários à vida.

Seus alunos, quando no exercício profissional como adultos produtivos estarão envolvidos com programas de “Ginástica Laboral”, Inscritos em academias, contratando um “personal trainer” e reaprendendo a viver sua corporeidade esquecida pela escola. Sua empresa, com finalidade apenas de marketing de negócios ou produtos, lhe pedirá para ser “voluntário” em programas esportivos voltados para os menos favorecidos e, novamente, os esquecidos pela escola.

Podemos mudar esta realidade? A cada dia que passa vivenciamos os produtos superando as pessoas e o marketing esportivo vendendo de tudo, menos os saberes necessários à corporeidade em sociedade.

Daniel Carreira Filho

2 comentários

  1. Não é apenas com a Educação Física Escolar que está acontecendo a terceirização, mas com toda a Educação pois ninguém quer um povo que saiba dos seus direitos e desenvolva pensamento crítico uma vez que consideram isso uma bobagem esquerdopata. Contudo, como hoje a Educação, como um todo e, portanto, a Educação Física está incluída, é vista apenas como mais um campo para o Mercado. Se há valor mercadológico e de Marketing, boas novas. Caso contrário, vá procurar outra fatia do Mercado.

    1. Olá, Nicolau
      A educação brasileira já não importa mais. Não é necessário ter formação. A desculpa do mercado já não funciona mais, também.

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