O porquê da inconsistência do VAR no Brasil

(Foto: @rafaelribeirorio)

O maior problema do VAR no Brasil não está nos erros decorrentes da incapacidade técnica de alguns profissionais, tampouco na tecnologia de segunda linha que utilizamos ou na sofrível qualidade das imagens de nossas transmissões. A principal deficiência do sistema reside na diretriz adotada pela Comissão de Arbitragem da CBF, que orienta o VAR a buscar a “melhor decisão”.

Essa diretriz, além de ferir o protocolo do VAR, gera insegurança no uso da tecnologia em nosso futebol — algo perceptível a cada jogo. Isso porque a ideia do que seria a melhor decisão varia entre árbitros e operadores do VAR, assim como entre você e eu, caro leitor. E mais: essa diretriz se desvia completamente da razão de ser do VAR.

Caso essa orientação continue a prevalecer, caminhamos para uma verdadeira Torre de Babel na arbitragem brasileira. Ora, caros desportistas, se a busca por um “erro claro e óbvio”, devidamente comprovado por imagem, já é capaz de gerar divergências e equívocos — dada a sutileza de muitos lances — imagine o que acontece com a infeliz diretriz de buscar a “melhor decisão”. O resultado tem sido e continuará sendo uma série de interferências indevidas e omissões graves, agravadas pela insegurança dos árbitros diante do sim, do não e, sobretudo, do talvez.

Se a Comissão de Arbitragem não afastar essa equivocada diretriz, nossa arbitragem caminhará, a passos largos, rumo a um poço sem fundo — repleto de conflitos, críticas e instabilidade.

É preciso destacar que essa diretriz da “melhor decisão” não nasceu aqui, mas na própria FIFA. Acontece que os torneios da entidade são curtos, esporádicos e contam com os melhores árbitros do mundo. Mesmo assim, os erros lá também ocorrem — e em sua maioria, justamente por causa da busca pela “melhor decisão”.

Outro ponto relevante: “erro claro e óbvio” não se confunde com falta grosseira. Uma infração pode ser sutil e ainda assim ser claramente identificável. Também é importante lembrar que tanto a FIFA quanto a CBF, ao seguirem esse modelo, violam o protocolo original do VAR, que exige a comprovação de erro claro para justificar qualquer intervenção.

Para agravar ainda mais a insegurança dos árbitros e operadores, a Comissão de Arbitragem da CBF passou a puni-los quando, a seu juízo, houver erro — mesmo em lances difíceis, que se situem em zona cinzenta entre o certo e o errado. Exemplo disso foi o a anulação do gol do Grêmio contra o CSA, em que sequer havia imagem clara para comprovar o equívoco do árbitro. Também serve como exemplo de lance que foge da atribuição do VAR o pênalti marcado a favor do Palmeiras contra o Ceará, de 22/05/25, pela Copa do Brasil, em lance que se percebe o Estevão impulsionando seu pé esquerdo, “malandramente” conta a perna do defensor do Ceará, provocando o contato, bem como se vê o pé direito do defensor do Ceará tocando no pé de Estevão, mas, seguramente, sem calçá-lo. A jogada, assim, por estar no inafastável terreno da interpretação, aliás, da fina interpretação, sobretudo por não se saber se teria sido Estevão o autor da suposta primeira falta, jamais deveria autorizar a intervenção do VAR. Ah se a situação fosse oposta; se o Ceará vencesse o jogo; e se o Palmeiras fosse desclassificado!

Assim, se a CA/CBF continuar com essa política de punições e afastamentos, corremos o risco de não ter árbitros disponíveis até o final do campeonato — salvo se os já afastados retornarem por uma espécie de rodízio baseado em antiguidade das punições ou da menor gravidade dos erros cometidos.

O cenário será ainda pior se as punições forem seletivas — determinadas pelo nome do árbitro; pelo peso do clube ou da federação que “gritou”; ou, pior ainda, se forem ignoradas nos jogos de menor apelo. Situação que comprometeria não só a justiça e a ética, mas também a busca do desenvolvimento técnico dos árbitros, caracterizando fuga de um dos principais objetivos de uma Comissão de Arbitragem.

Nossas esperanças estão se esvaindo, caro Rodrigo Cintra.

Erre com a Lei, cumpra o protocolo, dê tranquilidade e estabilidade a nossos árbitros e a nosso futebol.

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